Pequenas plantas testemunham que Lisboa ficou mais respirável nos últimos 30 anos

Estudo feito a partir de biomonitores, que vivem nas árvores, revela que a qualidade do ar na área metropolitana de Lisboa melhorou. Monsanto é o "pulmão" da cidade, já a Avenida da Liberdade é a zona mais poluída.

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Os biomonitores permitiram avaliar a qualidade do ar em Lisboa. DR

A qualidade do ar da área metropolitana de Lisboa melhorou nos últimos 30 anos. É o estudo do cE3c - Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais e do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC) em colaboração a Faculdade de Ciências e do Instituto Superior Técnico, da Universidade de Lisboa, divulgado esta segunda-feira, que o diz. Em primeiro lugar está Monsanto, como o “pulmão” da cidade. A Avenida da Liberdade é apontada como a "zona mais problemática". Como se chegou a esta conclusão? Pela utilização de biomonitores, como os líquenes e os briófitos, que dão resposta às modificações no meio ambiente e acumulam as substâncias poluentes.

"A qualidade do ar melhorou em Lisboa devido às regras ambientais e à preocupação ambiental que foi aumentando nestes últimos 30 anos”, afirma Palmira Carvalho, investigadora em líquenes, uma associação entre fungos e algas que muitas vezes são os responsáveis pela cor alaranjada dos telhados. Já os briófitos, também incluídos no estudo, são pequenas plantas que não têm um estrutura que transporte água e nutrientes, como os musgos.

De acordo com Palmira Carvalho, citada em comunicado, o local onde se verificou maior diversidade florística, sendo possível atribuir-lhe a designação de “pulmão” da cidade, foi Monsanto, seguido das áreas suburbanas da Península de Setúbal. A Avenida da Liberdade foi a zona onde se verificou o menor número de espécies. Ao todo, foram encontrados 163 líquenes e 48 briófitos na área metropolitana de Lisboa. Em comunicado de imprensa, é salientado que algumas espécies consideradas raras na região foram encontradas no centro da cidade.

A investigadora e coordenadora do estudo, Cecília Sérgio, afirma que esta é a prova que o metabolismo dos líquenes e briófitos podem contribuir para a avaliação da qualidade do ar. O estudo demonstra que os valores de gases poluentes, como o dióxido de enxofre, se alteraram e são muitas vezes inferiores ao regulamentado. A conclusão é que antes eram “valores altíssimos, no entanto agora são bastante mais baixos”, revela a investigadora.

Mas há outros motivos para esta diminuição. Há uns anos, o Seixal e o Barreiro tinham indústrias com um peso substancial na poluição do ar. “Neste momento todas as restrições e regulamentação ambiental modificaram a qualidade do ar para melhor ou bastante boa”, esclarece Cecilia Sérgio. Contudo, a investigadora aponta que também foram encontrados no local outro tipo de poluentes, como poeiras, que se instalaram em árvores e permitiram a permanência dos biomonitores. “Foram também detectadas muitas espécies que apareceram de novo, no entanto, isso nem sempre quer dizer que corresponde a muito boa qualidade do ar”, afirmou, salientando que estas alterações podem ocorrer pelo aumento de “compostos azotados ou outros factores ecológicos”.

Por isso, “será importante refazer este estudo com a mesma metodologia num futuro próximo para avaliar possíveis alterações”, alerta a Palmira Carvalho, destacando a emergência de se avaliar se novas políticas ambientais, como as relativas ao tráfego, foram eficazes ou não.

O estudo foi publicado na revista científica Ecological Indicators e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Os resultados foram recolhidos entre 1980-1981 e entre 2010-2011.

Texto editado por Ana Fernandes

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