A oeste nada de novo
Um dia, o povo vai perceber o tempo e o dinheiro que andámos a perder todos para manter o nível de vida de alguns, poucos.
Parece que a maioria dos historiadores militares supõe hoje que o conjunto da campanha mongol do leste europeu se tratou essencialmente de advertências, com o objectivo de enfraquecer os poderes ocidentais de forma a não atrapalhar os interesses mongóis no oriente, principalmente na Rússia.
Estará nessa linha de campanha militar de opaca advertência e explícita virulência táctica, a entrevista da passada semana ao Observador do ministro dos negócios estrangeiros, Augusto Santos Silva, onde o vácuo do nada político à esquerda tem carta de alforria e vem com o seguinte manual elementar de instruções:
“O compromisso do PS é que, na execução orçamental deste ano e nos orçamentos futuros, o partido não toma medidas que impliquem novos cortes nos salários e pensões, ou novos aumentos dos impostos sobre o trabalho. Esta é uma linha vermelha que o PS aceita facilmente porque é a nossa própria linha vermelha”.
Pronto, é isto o pacto por detrás da “geringonça”.
A preservação do cheque a pagamento às oligarquias dominantes
Muito pouco ou mesmo nada para quem quer governar um país.
E, já agora, a propósito da deixa da campanha mongol e da entrevista do ministro, quais são os objectivos a preservar do partido socialista (na versão costa)?
O primeiro é desviar as atenções, porque são evidentes as enormes fragilidades da “geringonça” que diz que nos governa e crescentes as suas dificuldades (e a sua total incapacidade a prazo) na apresentação de resultados efectivos de recuperação e crescimento da economia depois do último resgate financeiro externo.
O segundo é estabelecer uma confusão deliberada e perniciosa entre os dinamismos meramente mecânicos de funcionamento do acordo parlamentar e de governo à esquerda (o qual, apesar dos hossanas do ministro entrevistado será sempre frágil e artificial face às históricas clivagens político-ideológicas e programáticas dos outorgantes) e a suposta boa eficiência governativa.
Porque não há eficiência governativa porque sim ou porque se afirma (e uma mera máquina de aprovação plurianual de orçamentos do Estado não chega).
Porque a estabilidade política, por si só, i.e., sem ideias, não é nada.
Porque sem reformas estruturais amplas e especificadas, v.g., na área das finanças públicas, a nossa economia nunca será aberta, competitiva, atraente do investimento externo.
Nem crescerá.
Como não pode, nem cresce, com o visível abrandamento das exportações e a aceleração das importações resultantes da “receita” económica da “geringonça” (com a fezada da miragem do efeito directo na economia do aumento da procura interna induzido pelo aumento da renda das oligarquias).
Quando a “retoma” que se vê são carros novos e marcação de muitas viagens ao estrangeiro…
Entretanto, aqui e ali Santos Silva também faz avisos subliminares aos descrentes e adversários da solução governativa engenhada, numa lógica discursiva em linha com o seu já célebre “eu gosto é de malhar na direita”, um deles, pasme-se, dirigido ao Presidente da República a propósito dos seus insistentes (e óbvios) alertas para a necessidade de consensos.
Porque, alegadamente, esses apelos esvaziam a política.
O que é extraordinário, porque assim Santos Silva acaba por colocar a política ao nível de uma discussão de fim-de-semana sobre futebol.
Como se fosse aceitável supor que apelar aos consensos nega o debate.
É essa lógica sombria que nos faz perceber imediatamente porque é que só nove das 25 iniciativas legislativas de incentivo à natalidade que o CDS apresentou recentemente no Parlamento vão ser discutidas em comissão.
Todas as restantes propostas do CDS, designadamente, a criação de uma comissão eventual para o respectivo debate foram chumbadas pela maioria de esquerda.
Sucede que um dia, superada que esteja a doentia iliteracia social que prolonga artificialmente em Portugal, há mais de 40 anos, a agonia ideológica da esquerda, o povo vai perceber o tempo e o dinheiro que andámos a perder todos para manter o nível de vida de alguns, poucos.
Os que dizem ser de esquerda.
Advogado, membro da Comissão Política Nacional do CDS