Muitas energias para fechar Almaraz
Vamos reclamar o fecho de Almaraz e uma nova política energética, amiga do ambiente.
Foi em Novembro do ano passado que numa reunião de históricos militantes antinucleares e pela sustentabilidade e outros mais jovens, uma reunião que juntou gente de várias organizações ecologistas, que fiz a proposta de que, a exemplo de outras lutas ibéricas, como a de Aldeavila nos anos 1980, ou antes nos anos 70 de Sayago, ou mais recentemente a refinaria de Balboa já no século XXI, se procurasse articular uma posição ambientalmente e energeticamente justa do Estado português com a dos grupos ambientalistas e a de grande parte dos partidos espanhóis com vista a encerrar, para já, a central, os dois grupos nucleares, de Almaraz.
No final de Novembro fazíamos um primeiro contacto com o presidente da Comissão Parlamentar do Ambiente, o deputado Pedro Soares, ao qual se seguiria, no início de Dezembro um pedido de audiência.
"Portugal e Espanha desde sempre têm tido relações no âmbito da produção e do consumo de electricidade e desde os anos 60 que têm articulações no âmbito do electronuclear, tendo chegado a estar previsto no tempo das ditaduras uma central nuclear ibérica.
Desde os anos 1970 que o envolvimento (com estas problemáticas) nacional, seja ao nível das autarquias (das bacias do Douro e Tejo), seja ao nível do poder central (recordemos o caso do cemitério nuclear de Aldeavila de la Ribera), seja no empenho de grupos da sociedade civil de um lado e de outro, tem sido constante.
Em Julho foi assinado mais um protocolo luso-espanhol sobre a nuclear, no caso sobre questões de segurança, embora do nosso ponto de vista muito geral.
Neste momento, o programa nuclear espanhol está num nó górdio, sendo que as centrais se encontram a chegar ao termo do seu período de vida, mesmo com o prolongamento dessa.
Para vos apresentar a situação nuclear espanhola e a problemática do encerramento imprescindível das centrais castelhanas, nomeadamente das que utilizam as águas do Tejo, [vem o] MIA, solicitar-vos a oportunidade de vos fazer uma exposição."
Essa exposição foi feita no Parlamento aquando da visita da comissão a Vila Velha de Ródão, já depois de novos incidentes na central nuclear de Almaraz, e nessa revelou-se uma unanimidade de todos os partidos sobre a necessidade de o Governo português, seja junto da União Europeia seja junto das autoridades espanholas, agir no sentido de pôr termo a uma central, por demais inútil em termos de fornecimento de electricidade, a Espanha e à Península Ibérica.
Posteriormente a esta votação unânime do Parlamento, diversos municípios ribeirinhos, de que destaco os mais povoados, Lisboa, Loures e Amadora, e muitos outros votaram no mesmo sentido, sobre esta central.
Com os grupos de Almaraz, o historial de incidentes é imenso, já houve, ao contrário do que mentem alguns técnicos da nuclear (e, pasme-se, do próprio Ministério da Ambiente português!), vários vertidos radioactivos para o Tejo, um dos quais chegou a ser alarmante, sendo que diariamente partículas radioactivas transitam para as suas águas (está registado!). No entanto, felizmente, e disso todos nos congratulamos, só houve incidentes de registo nuclear menos grave, 1 e 2. Agora, com os problemas da idade e as deficiências nos equipamentos, que são, inclusive, relatadas pelo Conselho de Segurança Nuclear espanhol, agora que autoridades internacionais (da ONU) nos referem que se Fukushima fosse noutro país que não o Japão teria sido um cataclismo, dado nenhum estar preparado para, com método, retirar 200.000 (duzentos mil!) habitantes (na medieval vila de Almaraz há cartazes para evacuação, cada um aponta para um lado!)...
Hoje, embora escamoteados, várias centenas de contaminados no Japão vivem condenados, apesar das pastilhas de iodo que foram disponibilizadas (as nossas nem vê-las!!!).
No sábado, 11 de Junho, a partir das 11h, em Cáceres, muitas, muitas centenas de portugueses, a totalidade ou quase totalidade dos grupos ecologistas nacionais, ou com alguma interferência com o Tejo ou com a política de sustentabilidade, alguns partidos políticos portugueses, ao mais alto nível, e do lado espanhol outras centenas, muitas, impressionando e pressionando os partidos políticos, em campanha eleitoral, vão a debates, sessões de esclarecimento, e momentos de festa, que terminarão com uma grande manifestação, talvez das maiores e mais ibéricas, contra a nuclear: vamos reclamar o fecho de Almaraz e uma nova política energética, amiga do ambiente.
Os dados estão lançados, não podemos deixar estas centrais nucleares continuar a funcionar, ainda por cima estando já completamente amortizadas e sendo desnecessárias para qualquer outro objectivo que não as rendas do capital, não podemos continuar a viver sob o signo da roleta-russa.
Almaraz é essa roleta. Não corramos mais riscos! Não, obrigado!
Membro do Movimento Ibérico