Onde anda o último Governo
O que se seguiu à saída do executivo para os ministros e alguns dos secretários de Estado de Passos Coelho? Fomos descobrir.
Depois da enorme controvérsia gerada pela ida de Maria Luís Albuquerque para a Arrow Global, a discussão sobre legalidade e ética política volta a estar em cima da mesa a propósito do novo emprego de Paulo Portas na Mota-Engil. E talvez seja interessante perceber-se quais as opções profissionais que os ex-ministros e alguns dos mais emblemáticos secretários de Estado de Passos Coelho tomaram quando saíram do Governo.
Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro
Regressou a deputado em Outubro de 2015. Pedro Passos Coelho continua a full time na actividade política. Os reparos à manutenção do pin da bandeira nacional na lapela - sendo o único membro do anterior Governo que ostenta aquele símbolo - não têm, por isso, qualquer razão. Passos continua na política tal como a entende, como presidente do PSD e deputado.
Luís Marques Guedes, ministro da Presidência
Voltou a deputado em Outubro de 2015. Luís Marques Guedes chegou a ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares em 2013 na sequência da saída de Miguel Relvas do Governo, depois de ter sido secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros. Voltou ao seu posto de deputado, sendo presidente da Subcomissão de Ética, integrando a comissão de Assuntos Constitucionais e a comissão parlamentar de inquérito ao Banif.
Miguel Poiares Maduro, ministro-Adjunto
Regressou ao Instituto de Florença. Miguel Poiares Maduro veio do Instituto Universitário Europeu de Florença para o Governo de Passos Coelho para a pasta de ministro-Adjunto e do Desenvolvimento Regional com a tutela da Comunicação Social. Regressou a Florença e foi recentemente eleito para o comité de governação da FIFA.
José Pedro Aguiar-Branco, ministro da Defesa Nacional
Regressou a deputado e à Aguiar Branco & Associados. O dirigente do PSD é tão conhecido como político partidário como advogado no Norte do país. Continua deputado e mantém a sua actividade profissional de sempre.
Rui Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros
Foi para a Rui Pena & Arnaut. Antes de entrar no Governo depois da crise irrevogável provocada pelo anterior chefe da diplomacia, e vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, vendera a sua participação na sociedade de advogados PLMJ. Concluídas as suas funções no Palácio das Necessidades, o veterano político do PSD voltou à advocacia na Rui Pena & Arnaut, do seu cunhado Rui Pena.
Vítor Gaspar, ministro das Finanças até Julho de 2013
Foi para o FMI em Junho de 2014. O ministro das Finanças que protagonizou o “enorme aumento” dos impostos e foi o rosto de peso nas negociações com a troika durante os primeiros anos do resgate financeiro, acabaria por liderar o departamento de assuntos orçamentais do FMI onze meses depois de se demitir do Governo de Passos. Vítor Gaspar saiu com estrondo a 1 de Julho 2013, abrindo as feridas da crise “irrevogável” de Paulo Portas, e regressou ao Banco de Portugal como consultor de Carlos Costa. Durão Barroso convidou-o a integrar o Grupo de Alto Nível para a Tributação da Economia Digital e, em Junho de 2014, estava em Washington para dirigir um importante departamento no FMI. Numa entrevista ao PÚBLICO meses antes, Gaspar recusava a ideia de ter sido o “quarto elemento da troika”. Pedro Crisóstomo
Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças
Foi para a Assembleia da República e Arrow Global. Subiu a ministra das Finanças ainda com a polémica dos swaps efervescente e quando deixou de o ser não se furtou a uma nova controvérsia. Depois da queda do segundo Governo de Passos Coelho em Novembro, Maria Luís Albuquerque assumiu o lugar de deputada. E das últimas filas da bancada do PSD, a ex-ministra foi contratada como administradora não executiva pela filial britânica da gestora norte-americana Arrow Global. A empresa é especializada em análise de risco e compra de activos e que trabalhou no concurso de venda da carteira de crédito do Banif em 2014, quando Maria Luís era ministra. A acumulação de administradora na Arrow com o cargo de deputada foi analisada pela Subcomissão de Ética, que concluiu não haver impedimento legal (PSD e CDS votaram a favor do relatório, o PS absteve-se e o PCP e o BE votaram contra). Quando a polémica estalou, Maria Luís recebeu o respaldo de Passos, que a puxou para a direcção no PSD, como vice-presidente. P.C.
Paulo Núncio, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais
Foi para a Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (CDS) durante toda a governação de Passos Coelho regressou à advocacia depois da queda do anterior executivo. Em Janeiro tornou-se consultor da sociedade Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados, na equipa de direito fiscal. Paulo Núncio já tinha colaborado com este escritório entre 1997 e 2007, antes de se tornar sócio da Garrigues & Associados, onde estava antes de ser secretário de Estado. No Ministério das Finanças, foi o responsável político pela reforma do IRS, fiscalidade verde e a reforma do IRC. Para esta última, convidou para liderar a comissão de reforma António Lobo Xavier, que coordena a equipa de direito fiscal do escritório do Porto da Morais Leitão. P.C.
Isabel Castelo Branco, secretária de Estado do Tesouro
Foi para a BPI Gestão de Activos e BPI Vida e Pensões. A ex-secretária de Estado do Tesouro regressou à casa onde trabalhava antes de entrar para a equipa ministerial de Maria Luís Albuquerque em 2013, o BPI, onde já ocupou vários cargos. Até ir para o Governo, Isabel Castelo Branco era, desde 2002, directora financeira do banco liderado por Fernando Ulrich, depois de ser a responsável de investimentos na área de Gestão de Activos do grupo. Agora, lidera o BPI Gestão de Activos e BPI Vida e Pensões, onde já fora administradora. Como secretária de Estado, Isabel Castelo Branco foi substituir Joaquim Pais Jorge, que teve uma passagem fugaz no Governo por causa de o seu nome aparecer envolvido no caso dos swaps. P.C.
Hélder Reis, secretário de Estado Adjunto e do Orçamento
Foi para a Presidência da República. Foi de Julho de 2013 a Dezembro de 2015 o secretário de Estado do Orçamento da ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque. Era o homem encarregue de garantir que as contas batiam certo e que as metas orçamentais ficavam o mais perto possível de ser atingidas. Depois da queda do segundo (e muito breve) governo de Passos Coelho, Hélder Reis, com uma longa carreira na Administração Pública dentro do Ministério das Finanças, seguiu um novo rumo quando Marcelo Rebelo de Sousa se tornou Presidente da República, tendo sido nomeado para o lugar de assessor para os assuntos financeiros e orçamentais em Belém. S.A.
Hélder Rosalino, secretário de Estado da Administração Pública
Foi para o Banco de Portugal em Setembro de 2014. Entre os secretários de Estado, um dos rostos mais emblemáticos do Governo PSD/CDS foi o de Hélder Rosalino, secretário de Estado da Administração Pública (aplicou, por exemplo, o alargamento do horário de trabalho na Função Pública para as 40 horas semanais, medida que está agora a ser revertida). Hélder Rosalino acabou por não terminar o mandato, tendo saído em Dezembro de 2013 (já tinha pedido para sair em Julho, quando Vítor Gaspar apresentou a sua demissão). Após a experiência governativa, voltou ao Banco de Portugal, mas agora como administrador (era director do departamento de gestão de recursos humanos), cargo que assumiu em Setembro de 2014. L.V.
Miguel Macedo, ministro da Administração Interna
Dá aulas mas não voltou à advocacia. Advogado de profissão, o seu envolvimento no escândalo dos vistos dourados ditou a sua demissão em finais de 2014, antes de terminar o mandato. Não voltou a exercer, estando neste momento a aguardar julgamento juntamente com os restantes arguidos do processo. Tem dado algumas aulas sobre segurança e defesa nacional numa pós-graduação do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, na qual também é professor um juiz ligado aos serviços secretos, investigado no âmbito do caso dos vistos, mas que não chegou a ser constituído arguido. A.H.
Anabela Rodrigues, ministra da Administração Interna
Regressou à Universidade de Coimbra. Do mundo académico veio e ao mundo académico regressou. A sucessora de Miguel Macedo voltou a dar aulas na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, local onde atingiu um prestígio que contrasta com a sua apagada e, nalguns momentos, mal amada passagem pelo mundo das polícias. A.H.
Paulo Macedo, ministro da Saúde
Está de volta ao BCP. Foi mais um ministro que voltou ao local de trabalho de onde tinha saído. Além de desempenhar funções de director-geral do Millennium BCP, Paulo Macedo ainda é professor catedrático convidado do Instituto de Ciências Sociais e Políticas em regime de tempo parcial. A.H.
Nuno Crato, ministro da Educação e Ciência
Regressou ao ISEG. O ex-ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, regressou ao Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade de Lisboa logo após as eleições de 2015, não chegando sequer a integrar o efémero segundo Governo de Passos Coelho, no qual foi substituído pela professora de Coimbra Margarida Mano. Apesar deste regresso, Crato indicou que não está a dar aulas, uma vez que regressou "à investigação em alguns projectos em probabilidades e estatística, nomeadamente no International Institute of Forecasters", sociedade científicaque o elegeu para o board of directors há algumas semanas. C.V.
Álvaro Santos Pereira, ministro da Economia até Julho de 2013
Foi para a OCDE. Menos de um ano depois de despir a pele de ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira assumiu responsabilidades na OCDE, como director do departamento de estudos que faz a ponte com os ministérios das Finanças e Economia dos países-membros da organização. Santos Pereira foi escolhido por concurso para este cargo, onde lhe cabe ser uma espécie de braço-direito do economista-chefe da instituição, identificando políticas e reformas que os países podem tomar para melhorar o seu desempenho económico.
O economista passou a pasta ministerial a Pires de Lima a 24 de Julho de 2013 e em Janeiro do ano seguinte soube-se que iria para a OCDE, tendo assumido funções a 1 de Abril. Poucos meses depois, Santos Pereira lançou um livro para assinalar a sua passagem pelo Governo de Passos. Com o título escolhido para o livro – Reformar sem Medo, um Independente no Governo de Portugal (Gravida), Santos Pereira procurou cimentar a imagem de um ministro que enfrentou os lóbis. P.C.
António Pires de Lima, ministro da Economia
Foi para a administração da Media Capital (não executivo). António Pires de Lima, que substituiu Álvaro Santos Pereira num Ministério da Economia mais pequeno, mostrou desde cedo vontade de voltar ao sector privado após o fim do mandato do Governo. E, se antes de ir para o governo estava à frente do grupo de bebidas Unicer, no Porto (antes estivera na Compal, empresa que tentou comprar mas que foi parar aos donos da Sumol), agora ficou por Lisboa. Para já, enquanto não se percebe se lança ou não o seu próprio negócio, o gestor, ligado ao CDS, passou a integrar em Abril o conselho de administração da Media Capital (grupo que detém a TVI), como não executivo. L.V.
Sérgio Monteiro, secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações
Foi para o Fundo de Resolução. Sérgio Monteiro, enquanto secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, resistiu à mudança de ministro na Economia e manteve-se no cargo até ao fim. Depois, o gestor, que estava na Caixa-Banco de Investimento, do grupo CGD, onde era administrador executivo antes de ir para o Governo, foi contrato em Novembro para ajudar o Fundo de Resolução e o Banco de Portugal a vender o Novo Banco. O salário, conforme escreveu o PÚBLICO, ficou ligado à sua prestação na Caixa BI, chegando aos 250 mil euros brutos por ano, mais encargos adicionais. L.V.
Leonardo Mathias, secretário de Estado da Economia
Foi para o sector privado. O gestor entrou para o Governo através de António Pires de Lima, que o transformou no seu braço-direito após assumir as funções de Secretário de Estado Adjunto e da Economia. Leonardo Mathias vendeu a posição que detinha na Dunas Capital, ligada a gestão de activos, e, segundo afirmou ao Diário Económico, quer agora procurar novos projectos, “tendo como foco fazer a ponte entre investidores estrangeiros e as empresas portuguesas”. L.V.
Adolfo Mesquita Nunes, secretário de Estado do Turismo
Foi para a Consultora Gama Glória. Foi, durante dois anos de dez meses, secretário de Estado do Turismo de Passos Coelho. Depois de exercer funções governativas juntou-se, em Janeiro, a João Gama (secretário de Estado da Administração Local durante os breves 27 dias de duração do segundo governo de Passos) como partner da sociedade de advogados Gama Glória. A empresa presta assessoria jurídica, focada em estratégia, regulação e políticas públicas. Com Assunção Cristas na liderança do CDS-PP, Mesquita Nunes passou a ser um dos vice-presidentes do partido. Ana Rute Silva
Pedro Mota Soares, ministro da Solidariedade, Trabalho e Segurança Social
Foi para deputado. Pedro Mota Soares ganhou peso na estrutura de Governo quando passou a tutelar também o Emprego, acrescentando assim esta pasta à da Solidariedade e à da Segurança Social (após a saída de Álvaro Santos Pereira da Economia, e entrada de António Pires de Lima). Licenciado em Direito (é advogado e assistente universitário), voltou agora à vida de deputado, onde deu os primeiros passos em 1999, tendo chegado a ser presidente do grupo parlamentar do CDS-PP (na X legislatura). L.V.
Jorge Moreira da Silva, ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia
Foi para deputado. O ex-ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, Jorge Moreira da Silva, voltou ao Parlamento, para onde foi eleito por Braga. O actual primeiro vice-presidente do PSD candidatou-se ao cargo de secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, um lugar equivalente ao de subsecretário-geral da ONU. Perdeu entretanto esta corrida para outra ex-governante, a mexicana Patricia Espinosa, que teve em tempos a pasta dos Negócios Estrangeiros do México. Em paralelo à carreira política, Moreira da Silva foi eleito em Março presidente da Plataforma para o Crescimento Sustentável, think thank que fundou em 2011. Ana Brito
Artur Trindade, secretário de Estado da Energia
Regressou à ERSE. O antigo secretário de Estado da Energia (que foi substituir Henrique Gomes e teve como ministros da tutela, primeiro, Álvaro Santos Pereira e, depois, Jorge Moreira da Silva) voltou à Entidade Reguladora para os Serviços Energéticos (ERSE). Especialista em regulação económica e em economia da energia, antes de iniciar funções no primeiro Governo da coligação PSD/CDS, Artur Trindade liderava a direcção de Custos e Proveitos na ERSE. Com o regresso, foi encabeçar a Direcção-geral de Regulação, de onde emanam as restantes direcções da entidade reguladora. A.B.
Assunção Cristas, ministra da Agricultura
Foi para presidente do CDS-PP. A ex-ministra da Agricultura cumpriu quatro anos de mandato e manteve-se na esfera política depois de deixar o Governo, em Outubro de 2015. Anunciou a sua candidatura à presidência do CDS-PP através da sua página de Facebook no dia 14 de Janeiro. Mais tarde, no congresso dos centristas em Gondomar, acabaria eleita com 95,59% dos votos, substituindo, assim, Paulo Portas. Assunção Cristas é doutorada em direito privado e terminou a licenciatura na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa com 16 valores. A.R.S.
Jorge Barreto Xavier, secretário de Estado da Cultura
Regressou ao ISCTE. Jorge Barreto Xavier regressou ao ISCTE, de onde saiu em 2012 para assumir o cargo de secretário de Estado de Cultura. Professor auxiliar convidado do departamento de Sociologia do instituto desde Setembro de 2011, ensina Gestão das Indústrias Criativas e está a concluir a sua tese de doutoramento em Políticas Públicas. Desde que deixou o Governo, já publicou um livro, lançado em Abril: A cultura na vida de todos os dias (Porto Editora). I.N.
Alexandre Mestre, secretário de Estado do Desporto
Foi para a Abreu Advogados em Setembro de 2014.
Emídio Guerreiro, secretário de Estado do Desporto
Deputado desde 2015.