A morte do jornalismo

Em apenas 15 anos a internet matou o jornalismo. Com algumas excepções, o jornalismo moderno gira à volta do "clickbait"

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Thomas Martinsen/Unsplash

No final do séc. XX, com a massificação da internet no mundo ocidental, dizia-se que o online mataria o jornalismo em papel. Afinal, passados tantos anos, podemos observar que o que morreu não foi o jornalismo em papel, mas sim o jornalismo em si mesmo.

Grupos empresariais a comprarem órgãos de comunicação social (OCS) não é de hoje, é de sempre. No entanto, hoje temos os "lobbies" a controlar a forma como as notícias são feitas. Hoje, a única coisa que interessa é a viralidade dos conteúdos — só a notícia que obtém muitos comentários e "shares" e "likes" nas redes sociais é a boa notícia. Hoje, as instituições que nos deveriam querer informar, querem apenas a nossa atenção e o nosso clique.

Em apenas 15 anos a internet matou o jornalismo. Com algumas excepções, o jornalismo moderno gira à volta do "clickbait". Quantas vezes não vos aconteceu estar num site de notícias só a ver o que se passa e clicar num artigo porque tem um título chocante ou impactante e depois, quando lêem o mesmo, ele até se contradiz? Isso é o mundo do "clickbait". Não importa muito se o jornalismo tem qualidade ou não, não importa minimamente se o título é uma mentira descarada. O que importa é muita gente ler aquelas notícias, o que importa são as estatísticas.

Os rumores

Ainda há umas semanas, enviaram-me um link para uma “notícia” no "Correio da Manhã" que falava sobre algo que, nas palavras do jornal, “constava por aí”.  Deveríamos reflectir se queremos viver numa sociedade em que os OCS se estão a transformar no diário de uma jovem adolescente. Já se fazem notícias com rumores e ninguém se insurge? Então e a investigação jornalística? E ouvir todas as partes? E a ética acima de tudo?

A internet massificou-se no mundo ocidental, retirando, dessa forma, a principal forma dos OCS se sustentarem: a publicidade. Isto levou a que quase todos os OCS fossem adquiridos por grupos empresariais. E depois é simples de perceber: passámos a ter directores de jornais e revistas que foram escolhidos para a posição por não terem grandes escrúpulos e que despedem os jornalistas que têm princípios éticos, substituindo-os por jornalistas com um vínculo laboral fraquíssimo, mais novos e sem vida pessoal estabilizada que os permita colocar a verdade acima de tudo.

Se em Portugal há poucas notícias impactantes, não se façam jornais tão longos, nem telejornais de 1h30. Inaceitável é que tentem fabricar notícias. Claro que tudo isto tem excepções e nem todos os OCS e jornalistas agem da mesma forma, sendo injusto colocar todos no mesmo patamar.

Um jornalista deve ser acima de tudo verdadeiro e imparcial, mas infelizmente, no nosso país, a "CMtv" é o canal líder de audiências no cabo, por isso, permitam-me duvidar da nossa vontade em mudar o estado das coisas.

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