Consumo de cannabis e ecstasy aumenta entre os jovens europeus
Mais de 16,6 milhões de jovens europeus consumiram cannabis no último ano. O ecstasy também está a chegar a uma “uma nova geração de consumidores”. Numa altura em que as drogas ressurgem com níveis de potência inéditos, os opiáceos voltam a matar mais
Um por cento dos europeus adultos consome cannabis diariamente ou quase diariamente. Quer se trate de marijuana ou de haxixe, os níveis de potência daquela substância “são os mais elevados de sempre”, o que agudiza o risco de problemas de saúde agudos ou crónicos entre os consumidores. Aliás, a maioria das pessoas que iniciam um tratamento da toxicodependência, fá-lo devido ao consumo daquela droga. Que, em 2014, representou 78% das apreensões efectuadas na Europa.
Os números presentes no Relatório Europeu Sobre Drogas – 2016, que é apresentado esta terça-feira, fazem soar o alarme: 16,6 milhões de jovens europeus entre os 15 e os 34 anos de idade, ou seja, 13,3% desta faixa etária, terão consumido cannabis nos últimos 12 meses. Na faixa dos adultos (15-64 anos de idade), sobem para os 22,1 milhões os que consumiram aquela droga no último ano.
Os dados disponíveis apontam para um aumento no consumo desta substância na generalidade dos 28 países da União Europeia (EU) e os riscos associados ao consumo surgem potenciados pelo facto de os níveis de potência da resina de cannabis (haxixe) e da cannabis herbácea (marijuana) serem “os mais elevados de sempre”.
Este aumento vê-se à porta dos centros de tratamento. O número de utentes que iniciaram tratamento pela primeira vez devido a problemas relacionados com cannabis aumentou de 45.000 em 2006 para os 69.000 de 2014. O que faz com que a maioria das pessoas que iniciaram pela primeira vez um tratamento da toxicodependência tenha sido empurrada pelo consumo desta droga.
Quanto aos efeitos adversos associados ao consumo crónico de cannabis, o relatório cita o estudo mais recente da Organização Mundial de Saúde, segundo o qual os consumidores regulares e de longo prazo apresentam o dobro do risco de apresentarem sintomas e doenças psicóticas, bem como um risco mais elevado de desenvolverem problemas respiratórios. Os adolescentes que consomem esta substância de modo regular vêem aumentado o risco de esquizofrenia. E, numa altura em que a produção de cannabis se transformou “numa grande fonte de receitas para o crime organizado”, o OEDT aponta a importância de discutir “os custos e os benefícios das diversas políticas de combate ao consumo de cannabis”, numa alusão indirecta às experiências que estão em curso, por exemplo, no Uruguai (mas também nalguns estados norte-americanos) de criação de circuitos legais para o comércio da cannabis, desde a produção à distribuição e que incluem a criação de dispensários onde os consumidores podem adquirir a substância.
Ecstasy é “nuvem negra”
O aumento das mortes por overdose nalguns países e o contínuo aparecimento de novas substâncias, impulsionado pelos mercados de droga na Internet, destacam-se também na lista de preocupações deste relatório do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT), cujos autores reivindicam uma mudança na agenda política europeia de luta contra a droga. “Para abranger um conjunto mais amplo e complexo de questões”, sugerem.
A par do aumento do consumo de cannabis, o MDMA (frequentemente vendido em comprimidos de ecstasy, mas também disponível sob a forma de cristais e pó)) reaparece como uma droga de eleição dos jovens europeus. E não são só os consumidores habituais. O relatório aponta uma “nova geração de jovens consumidores”, especificando que 2,1 milhões de jovens adultos, entre os 15 e os 34 anos, afirmaram ter consumido MDMA/ecstasy no último ano, o que equivale a 1,7% dos europeus naquele grupo etário.
Esta tendência contrasta com o declínio registado entre 2000 e 2005, sendo que o recrudescimento do seu consumo assume algumas nuances: o ecstasy “deixou de ser uma droga limitada só a meios restritos ou subculturais e consumido em discotecas”, associado quase sempre à música electrónica, estando agora a ser consumido “por um leque mais vasto de jovens em ambientes de diversão nocturna comuns, como em bares e festas privadas”.
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