Taliban afegãos proclamam novo líder

Movimento fundamentalista confirma a morte do mullah Mansour e anuncia escolha de consenso. Haibatullah Akhundzada é mais um líder religioso do que um comandante.

Na mesma altura em que anunciavam um novo líder, os taliban reivindicavam um atentado que matou dez pessoas
Fotogaleria
Na mesma altura em que anunciavam um novo líder, os taliban reivindicavam um atentado que matou dez pessoas Mohammad Ismail/Reuters
Fotogaleria
O xeque Haibatullah Akhundzada Reuters

Quatro dias apenas depois da morte do mullah Akhtar Mansour, os taliban afegãos anunciaram um novo líder. Haibatullah Akhundzada, um dignitário religioso próximo dos dois anteriores líderes, é visto como a escolha de consenso, numa altura em que a rebelião fundamentalista se encontra fragmentada e muito dividida sobre a participação em conversações de paz com o Governo de Cabul.

Reunidos desde domingo, "todos os membros da shura [a assembleia de líderes] juraram fidelidade ao xeque Haibatullah num lugar seguro do Afeganistão", lê-se num comunicado divulgado nesta quarta-feira, no qual o movimento confirma também a morte, "como mártir", de Mansour, morto sábado por um drone norte-americano quando viajava de carro numa zona remota da fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. "Todas as pessoas são chamadas a obedecer ao novo Amir al-Muminin [comandante dos fiéis]".

Pouco se sabe de Akhunzada, tido mais como um líder religioso do que um comandante. O seu nome surge num relatório divulgado no ano passado pelas Nações Unidas, em que é identificado como antigo chefe dos tribunais taliban quando os fundamentalistas ocuparam o poder em Cabul (1996-2001). Terá cerca de 50 anos – 45 segundo algumas fontes, quase 60 segundo outras – e é oriundo de Kandahar, a grande província do Sul que é o bastião da etnia pashtun, maioritária no país, pertencendo a uma das mais influentes tribos da região.

Sabe-se também que foi adjunto de Mansour e antes disso era muito próximo do mullah Omar, o fundador e líder do movimento, que terá morrido em 2013. A Reuters escreve que tal como ele, Haibatullah é avesso a publicidade – só depois de ter sido eleito foi divulgada uma fotografia sua, à semelhança do que aconteceu no Verão passado com Mansour, apesar de alguns taliban acreditarem que o retrato ajudou os serviços norte-americanos a localizar o anterior líder.

A sua escolha acaba por surpreender, numa altura em que os nomes mais falados à sucessão eram Sirajuddin Haqqani, líder da facção com o mesmo nome reputada pelas actividades criminosas e ataques suicidas de grande impacto, que foi adjunto de Mansour; ou um familiar directo de Omar, tal como o seu filho Mohammad Yaqoob. Mas ambos terão recusado o cargo, garantiram à AFP fontes do movimento, adiantando que ficarão como adjuntos.

"Haibatullah representa o statu quo por comparação com a era de Mansour", disse à AFP o analista paquistanês Rahimatullah Yousafzai, especialista no movimento fundamentalista, lembrando as profundas divisões causadas pela escolha do antigo líder, no Verão passado. Cisões agravadas pelas divergências quanto à oportunidade de negociar com o Governo afegão, após 15 anos de uma rebelião que nem os 150 mil militares americanos e da NATO que chegaram a estar estacionados no país conseguiram vencer. Mansour rejeitou desde o início o diálogo – uma oposição feroz que levou os Estados Unidos a colocá-lo na lista de alvos prioritários –, optando por uma campanha de ataques e atentados de grande violência e visibilidade.

Apesar das quezílias, os rebeldes têm vindo a obter ganhos significativos desde o fim das operações de combate da NATO, no final de 2014, controlando actualmente mais território do que em algum outro momento desde a invasão norte-americana, em 2001. Estados Unidos, Paquistão e China têm tentado que as negociações avancem, mas os analistas mostram-se pouco confiantes numa mudança. "Ele é considerado como partidário das negociações de paz, mas não pode fazer nada sem o consenso da shura", disse à AFP o analista paquistanesa Amir Rana.

Num mau augúrio, na mesma altura em que os taliban davam a conhecer o seu novo líder, um bombista suicida fazia-se explodir à passagem de uma carrinha com funcionários de um tribunal, na zona ocidental de Cabul, matando dez pessoas e ferindo outras quatro. A acção foi reivindicada pelos taliban.

 

 

 

 

 

Sugerir correcção
Comentar