Obama confirma morte do líder dos taliban afegãos

Taliban em silêncio sobre ataque contra o mullah Akhtar Mansour. Fontes locais dizem que processo de escolha de sucessor está já em marcha.

Foto
Imagem do veículo destruído pelo ataque do drone norte-americano Reuters TV

O Presidente norte-americano, Barack Obama, confirmou a morte do líder dos taliban num ataque com um drone numa zona remota da fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. O desaparecimento do mullah Akhtar Mansour promete desencadear uma nova luta interna pela liderança do movimento fundamentalista afegão.

Obama, que está de visita ao Vietname, emitiu um comunicado em que classifica a morte do líder radical como “um marco nos esforços de longo prazo para levar a paz e a prosperidade ao Afeganistão”, sublinhando que desde que assumiu o comando dos rebeldes Mansour se opôs sempre a negociações de paz com o Governo de Cabul e “continuou a planear e a ordenar ataques contra as forças americanas e da coligação” ainda presentes no país.

“Os taliban devem aproveitar esta oportunidade para adoptarem o único caminho para o fim deste longo conflito – juntarem-se ao Governo afegão num processo de reconciliação que conduza a uma paz duradoura e à estabilidade”.

Domingo à noite, responsáveis afegãos e norte-americanos tinham dado como provável a morte do comandante rebelde, mas oficialmente o Pentágono recusou confirmar a informação, dizendo estar ainda à espera de dados que provassem cabalmente o sucesso do ataque, autorizado pelo próprio Obama. Segundo o Governo afegão, Mansour foi morto por um míssil disparado a partir de um avião não-tripulado norte-americano quando viajava de carro, sábado à tarde, na província do Balochistão, uma área remota do Paquistão. No automóvel seguia um outro comandante taliban, que morreu também no ataque.

O Governo paquistanês assegura não ter sido informado antecipadamente do ataque, que classifica como uma “violação da soberania nacional”. O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse que o Paquistão foi “notificado” da acção, mas um responsável da Administração adiantou à Reuters que a informação só seguiu para Islamabad depois do ataque – um novo sinal da pouca confiança de Washington no empenho paquistanês na luta contra os radicais afegãos.

Alguns dirigentes taliban foram citados pela imprensa local a admitir a morte de Mansour, desmentida de imediato por alguns dos comandantes que lhe eram mais próximos. “A liderança está a ser muito cuidadosa, porque um passo em falso pode dividir o grupo em muitas facções”, disse à Reuters um responsável rebelde da província de Nangarhar, no Leste do Afeganistão. Só em 2015, os rebeldes anunciaram a morte do líder histórico dos fundamentalistas, o mullah Omar, que terá morrido dois anos antes. E se Mansour acabou por ser oficialmente nomeado lhe suceder, nunca conseguiu unir todas as facções do movimento – um cenário que pode repetir-se agora, fragmentando ainda mais a rebelião.

Fontes locais contam que foi já convocada uma shura – nome das assembleias tradicionais em que são tomadas as grandes decisões – para iniciar o processo de escolha de um novo líder. À partida, os favoritos são Sirajuddin Haqqani, líder de uma facção autónoma reputada pelas actividades criminosas e ataques suicidas de grande impacto, que foi adjunto de Mansour, ou um familiar directo do mullah Omar, tal como o seu filho Mohammad Yaqoob.

O gabinete do Presidente afegão, Ashraf Ghani, disse que a morte de Mansour é uma nova oportunidade para os taliban se juntarem aos "aos esforços de paz", pondo fim ao “derramamento de sangue” dos últimos meses. Um desejo que a possível ascensão de Haqqani à liderança taliban torna improvável, dada a feroz oposição do comandante radical às negociações de paz.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários