Emoção sublinhada a traço grosso
Para A Correspondência funcionar, teria de ter havido contenção em vez de demonstração, discrição em vez de emoção sublinhada a traço grosso.
Não se pode dizer que não haja uma ideia curiosa por trás do mais recente filme do italiano Giuseppe Tornatore (sim, o do Cinema Paraíso que hoje parece bem mais sobrevalorizado do que então): criar o equivalente moderno do velho “romance epistolar”, onde a acção é contada através das cartas trocadas pelas personagens, substituindo as cartas por mensagens de texto, chamadas telefónicas, envios expresso e vídeo-mensagens. Mas como Tornatore é um “maximalista”, e nunca vê uma ideia que não possa ser sobrecarregada, vá de introduzir uma volta na ponta metafísica na sua história da paixão escondida entre um professor de astrofísica, casado e com filhas, e a aluna mais jovem de quem é orientador: o homem morre logo ao princípio do filme, mas as mensagens de amor continuam a chegar à sua amante, como se fossem recados do “outro mundo”, tudo ilustrado por uma partitura (particularmente inspirada) de Ennio Morricone e por uma fotografia de destacável de moda em papel couché.
Para A Correspondência funcionar, teria de ter havido contenção em vez de demonstração, discrição em vez de emoção sublinhada a traço grosso, e já agora uma actriz mais à vontade — Olga Kurylenko, que estava muito bem em Malick, parece nunca encontrar aqui o tom certo, sobretudo face a um Jeremy Irons que, mesmo em piloto automático, sabe exactamente o que está a fazer.