Líder taliban "provavelmente morto" em ataque com drone
Pentágono descreve o mullah Mansour como "um obstáculo à paz e à reconciliação entre o governo do Afeganistão e os taliban". Serviços secretos paquistaneses confirmam a morte.
Um ataque com um drone levado a cabo pelo exército dos Estados Unidos na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão terá resultado na morte do mullah Akhtar Mansour, o líder do movimento radical taliban no Afeganistão. Os serviços secretos paquistaneses confirmaram a sua morte, mas elementos próximos de Mansour negam-no e o comando norte-americano diz não ter ainda os dados suficientes para a dar como certa.
"Estamos confiantes, mas nesta altura não temos factos indisputáveis de que ele esteja morto", afirmou o general Charles Cleveland, porta-voz das forças americanas no Afeganistão. Antes, numa mensagem partilhada no Twitter, o porta-voz do Pentágono, Peter Cook, sugeriu uma operação bem-sucedida, dizendo que foi "mais um passo para garantir a segurança" das tropas norte-americanas na região.
De acordo com oficiais norte-americanos, sob a liderança de Mansour os taliban aproximaram-se de grupos como a Al-Qaeda, ameaçando directamente a segurança dos Estados Unidos. Peter Cook classificou Mansour como "um obstáculo à paz e à reconciliação entre o governo do Afeganistão e os taliban", acrescentando que o líder estaria envolvido no planeamento de ataques contra as forças norte-americanas e afegãs.
Today DoD carried out a precision airstrike targeting Taliban leader Mullah Mansur. Another step to make our troops safer in Afghanistan
— Peter Cook (@PentagonPresSec) May 21, 2016
Os alvos do drone norte-americano foram Mansour e outro combatente, quando ambos seguiam num veículo na província do Baluchistão, uma área remota do Paquistão, pelas 15h de sábado (hora local, 11h em Portugal continental).
Os taliban ainda não emitiram uma declaração oficial, mas dois comandantes próximos de Mansour desmentiram a sua morte. Um dos comandantes reconheceu que a notícia, que descreve com um "rumor", já criou o pânico entre os membros do movimento.
Caso se confirme, a morte de Mansour pode abrir uma batalha pela sucessão no interior do movimento insurgente e aprofundar ainda mais as cisões que se iniciaram após a morte do fundador, o mullah Omar – confirmada no ano passado, embora as forças afegãs garantam que Omar morreu em 2013.
O adjunto de Mansour, Sirajuddin Haqqani, que chefia um grupo acusado de planear e executar os mais relevantes ataques suicidas em Cabul, parece ser o nome mais bem posicionado para suceder ao líder. No entanto, como disse à Reuters Michael Kugelman, especialista do think tank Wilson Center, com sede em Washington, "no que toca aos taliban, nada é claro e a meritocracia nunca é a norma".
De qualquer forma, caso Mansour tenha realmente sido morto, a possível ascenção de Haqqani ao papel de líder pode representar um novo revés na possibilidade de negociações entre o governo afegão e os taliban. Tudo porque Haqqani tem tido uma oposição contrária às conversações de paz com o governo.
Paquistão solicitou esclarecimentos
O secretário de Estados norte-americano, John Kerry, reforçou que Mansour representava uma "contínua e iminente ameaça" aos Estados Unidos. "Se as pessoas se querem pôr no caminho do paz e continuar a ameaçar, a matar e a fazer explodir pessoas, não temos outra alternativa senão reagir e acho que reagimos de forma apropriada", disse Kerry.
Apesar de um porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros paquistanês ter "solicitado esclarecimentos" em relação ao ataque, Kerry assegurou que quer o líder do Paquistão quer o líder do Afeganistão foram notificados deste ataque, recusando-se, no entanto. a concretizar se essa informação seguiu antes ou depois de o mesmo ter sido realizado.
O governo afegão confirmou ter sido informado por Washington sobre o ataque e a provável morte de Mansour. O gabinete do Presidente Ashraf Ghani disse que, caso esta morte se confirme, os taliban que quiserem parar com este derramamento de sangue devem regressar de "solo estrangeiro" e juntar-se "aos esforços de paz".
O exército paquistanês não quis prestar declarações, mas um oficial de segurança interna, que preferiu não ser identificado, disse à Reuters que houve um ataque aéreo mas que desconhecia o alvo, e garantiu que o mesmo ocorreu no lado afegão da fronteira.