Fotografia
A construção costeira portuguesa revela desmazelo ou corrupção?
O fotógrafo Diogo Andrade percorreu toda a costa portuguesa, desde Caminha até Vila Real de Santo António, e trouxe consigo apenas os "postais feios". Construção sobre zonas protegidas ou de altura ilegal, indústria pesada instalada sobre os areais, vias de escoamento de resíduos a céu aberto, exemplos de planeamento urbanístico e paisagístico disfuncionais constam nas imagens do projecto que o fotógrafo ironicamente intitulou de O Jardim.
A Póvoa de Varzim, a Figueira da Foz e a Quarteira foram as cidades que, devido à elevada extensão e densidade habitacionais, o impressionaram mais negativamente. "Em termos de poluição ambiental, a refinaria de Leça da Palmeira e o Porto de Leixões, bem como toda a área do porto de Sines e São Torpes, são zonas em que se sente uma brisa marítima 'diferente'", ironiza. "Tudo poderia ter sido feito com mais critério e, sobretudo, com mais pensamento estratégico."
Diogo aponta o dedo ao turismo, "sem demonizar", como um dos principais responsáveis pela "intensa mudança da costa portuguesa" das últimas décadas, mas não isenta de culpa a população, que alimentou o forte desejo de "comprar ou arrendar uns metros quadrados à beira mar". "O Jardim não é um projecto de denúncia", elucida o fotógrafo, "mas sim de investigação sobre as escolhas erradas que foram feitas ao nível de desenvolvimento urbanístico e gestão do território, seja por parte do Estado, do poder local ou do cidadão individual". "As decisões relacionadas com a gestão do território são nucleares", salienta. "Elas condicionam, de maneira mais ou menos intensa, a vida das populações e o estado de saúde do ambiente em que estão imersas. Se o território é uma das nossas principais riquezas, como gostamos de apregoar, devia ser nossa obrigação defendê-lo e preservá-lo da melhor maneira possível, numa perspectiva de longo prazo."
O jovem fotógrafo e documentarista é natural de Sintra, mas reside em Milão, Itália. A distância não é, nem será, motivo para deixar de fotografar Portugal. "Portugal é o meu país. É o país o que conheço melhor, que estudei melhor e, consequentemente, aquele sobre o qual tenho mais a dizer." Ana Marques Maia