Presidente da Guiné-Bissau faz cair o Governo mas não convoca eleições
"É imoral pedir-se que sejam desviados mais de dez milhões de dólares dos sectores sociais para a realização de eleições legislativas antecipadas para satisfazer caprichos democráticos”, diz José Mário Vaz.
O Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, demitiu o Governo liderado pelo primeiro-ministro Carlos Correia, apelando “aos actores políticos a encontrarem uma solução solução governativa no quadro parlamentar resultante das últimas eleições legislativas”, de Abril de 2014.
O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) está em maioria na Assembleia Nacional desde as legislativas de há dois anos, e o Presidente da República é da mesma formação política. Mas há um conflito interno que opõe Presidente e partido e que já no Verão passado levou à queda do Governo de Domingos Simões Pereira.
O Presidente descarta a possibilidade de dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas devido aos custos que isso acarretaria: “O nosso país não dispõe de recursos financeiros próprios para custear novas eleições legislativas. Decorridos apenas dois anos depois da Comunidade Internacional nos ter pago, com o dinheiro dos seus contribuintes, a realização de eleições por todos reconhecidas como livres, justas e transparentes, não é dignificante voltarmos a estender a mão para a realização de mais um acto voluntário de soberania”, declarou, num discurso à nação.
“Num país em que a maioria das crianças não frequenta a escola por falta de menos de dez mil francos CFA (€15,2); num país em que mães e crianças morrem diariamente nos hospitais por falta de menos de dez mil francos CFA, é imoral pedir-se que sejam desviados mais de dez milhões de dólares dos sectores sociais como a saúde e educação para realização de eleições legislativas antecipadas para satisfazer caprichos democráticos”, afirmou José Mário Vaz.
O primeiro governo nomeado por José Mário Vaz após ter afastado o de Simões Pereira, liderado por Baciro Djá, caiu rapidamente, porque a sua nomeação foi considerada inconstitucional.
“Eleições legislativas antecipadas não são o meio idóneo para resolver problemas de disciplina, coesão ou unidade interna de partidos políticos”, sublinha o Presidente, que na quarta-feira recebeu representantes dos partidos representados na Assembleia Nacional e reuniu o Conselho de Estado e dirigentes religiosos, avança a AFP.
O Presidente guineense, reconhecendo o ambiente “de crispação e forte clivagem social” , “encoraja o actual primeiro-ministro a encetar diligências no sentido de estabelecer compromissos e operar uma remodelação profunda do Governo, por forma a permitir que este tenha o apoio maioritário do Parlamento e garantir a estabilidade governativa até ao fim da legislatura.”