Marcelo Rebelo de Sousa faz apelo ao diálogo em Moçambique

"Falem, mesmo que não se entendam à primeira", disse o Presidente português em entrevista ao maior canal de televisão privado daquele país lusófono. Após um encontro com o Presidente moçambicano, Marcelo desdramatizou a suspensão da ajuda financeira pelo G14, a que Portugal preside.

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Marcelo quer amplo consenso em matéria de reestruturação da CGD Miguel Manso

O Presidente português considera que "Moçambique tem de pensar que é mais importante o que une que o que divide" e faz um apelo ao diálogo, numa entrevista ao canal de televisão moçambicano STV.

Num momento em que Moçambique atravessa uma grave crise político-militar entre o Governo da Frelimo e a oposição da Renamo, Marcelo Rebelo de Sousa é questionado sobre o clima de conflito interno e traça um paralelismo entre essa situação e as relações entre amigos ou familiares desentendidos. "Falem, mesmo que não se entendam à primeira", pede o chefe de Estado português, referindo que faz apelos semelhantes em Portugal.

Marcelo Rebelo de Sousa defende que "devem ser os moçambicanos a falar e a entender-se" e que este tema deve ser tratado com reserva: "Mesmo que me tenham pedido opinião, é meio caminho para correr mal se divulgar esse pedido".

Esta entrevista ao maior canal de televisão privado moçambicano foi gravada na terça-feira, o primeiro de quatro dias de visita do Presidente português a Moçambique, e deverá transmitida esta quarta-feira. Expressando o seu "amor por Moçambique", Marcelo Rebelo de Sousa afirma que o país "não pode desperdiçar o potencial que tem" e "tem de pensar que é mais importante o que une que o que divide".

A propósito do papel de Portugal em relação a Moçambique, o Presidente português volta a frisar que "Moçambique é um estado soberano, não há cá intervenções estrangeiras". "Devem ser os moçambicanos a falar e a entender-se. Podem ouvir conselhos e opiniões de amigos, mas forasteiros não podem dar lições de felicidade aos moçambicanos", reforça.

Marcelo Rebelo de Sousa diz que "opiniões devem ser dadas em privado", porque "em público isso cria mais dificuldades do que facilita as coisas". "É uma questão de bom senso. Os amigos não devem ir além disso", acrescenta. Depois, salienta que "Portugal está todos os dias a ajudar na medida em que colabora com a cooperação".

Homenagem aos heróis moçambicanos

Já de manhã, Marcelo Rebelo de Sousa prestou homenagem àqueles que lutaram pela independência de Moçambique, com a deposição de uma coroa de flores na Praça dos Heróis Moçambicanos, em Maputo. No final da cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu-se a um grupo de 23 antigos combatentes da Frelimo que estavam perfilados num dos lados da praça e cumprimentou-os um por um.

Um desses antigos combatentes, Mapuno Lpico, de 69 anos - da mesma geração do chefe de Estado, que tem 67 - agradeceu o gesto com palavras afectuosas. "Agradeço sermos saudados pelo Presidente da República de Portugal. É o nosso pai, é o nosso irmão", declarou o antigo combatente aos jornalistas. Por sua vez, o Presidente português disse que quis "prestar homenagem àqueles que lutaram pelo grande Estado de Moçambique".

Nesta visita de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa regressa como Presidente da República a um país que visitou muitas vezes ao longo da vida, a primeira das quais quando tinha 19 anos e o seu pai, Baltazar Rebelo de Sousa, era governador-geral da então província ultramarina, em plena guerra colonial.

Após a cerimónia de deposição de flores, o chefe de Estado foi cumprimentar os grupos de danças tradicionais moçambicanas que o receberam à chegada, e que se estendiam ao longo da estrada em frente ao monumento da Praça dos Heróis Moçambicanos.