O nome dela é Barbra e continua a intrigar-nos
Barbra Streisand: Redefining Beauty, Femininity and Power explora a ideia da actriz e cantora como ícone cultural que triunfou no mundo do espectáculo assumindo abertamente a sua identidade enquanto mulher e enquanto mulher judia.
É muito fácil sucumbirmos à caricatura de Barbra Streisand, uma das últimas representantes do estrelato da Broadway que fez a transição para o showbiz global, como diva reclusa, narcisista e perfeccionista, ou como surpreendente ícone da comunidade gay americana. O “caso” para a importância maior de Streisand, contudo, acaba de ser defendido pelo jornalista e escritor Neal Gabler num ensaio biográfico publicado na prestigiada colecção da Yale University Press Jewish Lives, dedicada à multiplicidade da experiência e da identidade judia ao longo dos séculos. Streisand junta-se assim a políticos como Benjamin Disraeli ou Moshe Dayan, cientistas como Albert Einstein, Robert Oppenheimer ou Sigmund Freud, e a escritores como Marcel Proust, Franz Kafka ou Primo Levi no elenco de uma série académica que também já dedicou volumes a Steven Spielberg, Bob Dylan, Groucho Marx e aos irmãos Warner.
Gabler, que já escreveu biografias do jornalista Walter Winchell ou de Walt Disney, explora em Barbra Streisand: Redefining Beauty, Femininity and Power a ideia da actriz e cantora como ícone cultural que triunfou no mundo do espectáculo assumindo abertamente a sua identidade enquanto mulher e enquanto mulher judia, recusando-se a ceder aos ditames culturais normativos e impondo uma identidade muito mais próxima da “mulher comum” do que da vedeta glamorosa. E, de facto, aqueles que não viveram o momento de maior impacto de Streisand nos anos 1960 e 1970, os anos em que a Nova Hollywood obrigou à redefinição das convenções do estrelato, poderão não ter consciência do que a popularidade da actriz significava. Streisand venceu 15 Grammys em 40 nomeações, dois Óscares entre os quais o de Melhor Actriz por Funny Girl, e cinco Globos de Ouro, e foi uma das fundadoras da First Artists, tentativa de “recriar” a experiência pioneira da United Artists onde era sócia de Dustin Hoffman, Paul Newman, Sidney Poitier e Steve McQueen.
Hoje com 74 anos (completados no passado dia 24), Streisand não pisa um palco da Broadway desde 1966 e apenas entrou em cinco filmes nos últimos 25 anos, período durante o qual tem estado mais activa enquanto cantora, publicando nove álbuns e arriscando quatro curtas digressões de palco. Mas o seu perfeccionismo continua lendário, e o seu modo esquivo de estar no olhar público sem estar garante que a sua presença continuará a pairar sobre Hollywood.