Discos riscados
O ano da melhor música Pop varia conforme a idade de cada um.
Estou a ler, ao mesmo tempo - e devagar, porque são chatinhos - dois livros sobre os melhores anos de música Pop de sempre. Um (Jon Savage) diz que foi 1966, há 50 anos. Outro (David Hepworth) diz que foi 1971, há 45 anos.
Ambos os livros são desinteressantes para quem não tenha idade para se lembrar da música de ambos os anos. O ano da melhor música Pop varia conforme a idade de cada um.
Savage fala muito em Walking My Cat Called God de Norma Tanega mas não fala no álbum Small Faces dos Small Faces nem em duas obras-primas de 1966: os dois primeiros álbuns de The Mamas And The Papas: If You Can Believe Your Eyes And Ears e The Mamas And The Papas.
Jon Savage está mais interessado em singles e nos acontecimentos políticos. Os gostos dele são previsíveis. David Hepworth é mais excêntrico e provocador. Para já, concentra-se nos álbuns.
Havia poucos e emprestávamo-los uns aos outros. Ouvíamos o primeiro lado e a seguir o segundo. Tirávamos as letras pelo ouvido caso não tivessem sido impressas - o que quase nunca acontecia.
Depois interpretávamos as letras à procura das grandes verdades que continham. Todas falavam de experiências que nunca tínhamos tido. Era como sermos colonizados por extraterrestres.
E, por muito que Hepworth cante o elogio de Tapestry de Carole King, é impossível encontrar a vontade de ir ouvi-lo outra vez. Nem depois de 45 anos.
Fico à espera dos livros para todos os anos entre 1916 e 2016. Fazem muita falta.