Solidez do BPI não sofrerá com saída de Angola

A venda do BFA não se repercutirá negativamente nos rácios de capital e de solidez do BPI, mas vai reflectir-se nos seus resultados. No primeiro trimestre, o BFA contribuiu com 80% dos lucros do BPI.

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Fernando Veludo/NFactos

"O BPI podia oferecer o Banco de Fomento de Angola (BFA) que o rácio de capital se mantinha” sólido, garantiu o presidente executivo do BPI, que detém 50,1% da instituição. Mas “ainda não enlouqueci. Isto era apenas um exemplo ” para que “de uma vez por todas", as "pessoas percebam que a questão do BFA não tem impacto no capital do BPI", sublinhou Fernando Ulrich que hoje assiste a um braço-de-ferro no capital entre os dois maiores accionistas: o Caixa Bank e a Santoro, de Isabel dos Santos.

Para o banqueiro, o desinvestimento do BPI de Angola não se repercutirá negativamente nos rácios de capital e de solidez da instituição portuguesa e lembra que o rácio common equity tier 1 se situou em 10,8% em termos consolidados, e subirá para 11% contabilizando apenas a actividade nacional. Mas a venda do BFA reflectir-se-á nos resultados. Isto, a manter-se a evolução dos últimos anos. No primeiro trimestre de 2016, o BPI apresentou lucros de 45,8 milhões, dos quais 37,9 milhões provieram da operação angolana (80% dos lucros). “Se o BPI deixar de consolidar o BFA, obviamente que deixa de contabilizar e de se apropriar dos resultados do BFA” o que será compensado por aumentos da rentabilidade em Portugal.  

Depois aludir ao teor do comunicado da Santoro (com 21% do BPI), de 19 de Setembro, e que foi usado por Isabel dos Santos para justificar a ruptura no acordo celebrado a 10 de Abril com o CaixaBank (dono de 44%), Fernando Ulrich sublinhou que partilhava das preocupações da sua segunda maior accionista: a necessidade de proteger os investidores minoritários do BPI (com liquidez) e a existência de dificuldades em exportar capitais de Angola.

E, então, propôs-se apresentar três soluções para resolver o problema do excesso de exposição do BPI a Angola que o Banco Central Europeu (BCE) exige que seja resolvido. Alternativas que respondem às preocupações da Santoro. Uma delas passa pela venda das acções do BPI na posse de Isabel dos Santos que, em compensação, receberia em pagamento acções do BFA. “Não há saída de dinheiro de Angola e haveria um aumento do investimento da Santoro em Angola. E, em conjunto com a Unitel, [Isabel dos Santos] poderia controlar o BFA, que parece ser um dos objectivos”, evidencia Ulrich.     

E dado que a posição de Isabel dos Santos no BPI “não daria para comprar os 50,1% do BFA”, então “o BPI continuaria com uma participação no BFA mas claramente abaixo dos 50,1%”. Esta via permitiria retirar o BFA dos holofotes do BCE, pois já não apareceria consolidado nas contas do BPI.

O presidente do BPI enumerou uma segunda possibilidade: a venda ao CaixaBank do BPI, no âmbito da oferta pública de aquisição (OPA) que está em curso, seguida de um pedido ao BCE que autorize o BPI (já consolidado no grupo espanhol) a manter 50,1% do BFA. “E também não implica saída” de verbas de Angola.

A terceira hipótese é conhecida. Foi apresentada a 30 de Setembro de 2015 pela administração do BPI (onde Isabel dos Santos está representada): a cisão do BPI dos activos africanos (incluindo Moçambique). Os accionistas do BPI ficariam em duas empresas autónomas, sendo que a nova ficaria cotada na bolsa de Lisboa. “E não saía de Angola nem um cêntimo”, nota Ulrich, para quem esta via até já podia estar executada. E não compreende o que levou Isabel dos Santos a não a aceitar, depois de a ter aprovado numa fase inicial.

Do seu ponto de vista, esta era a alternativa que melhor defendia o BPI, os seus accionistas e Angola e teria evitado “uma série de coisas” como a publicação do diploma governamental que permite a desblindagem dos estatutos, e que “só saiu nesta data devido ao que ocorreu.” À pergunta se esta não era a prova de que se trata de uma decisão feita à medida do BPI (o que o Governo nega), Ulrich respondeu: "Se fosse, não tenho problema nenhum com isso". Mas sublinhou que o decreto-lei foi elaborado "de forma a contemplar preocupações que possam ocorrer noutras instituições. Não é um 'diploma BPI' [a designação dada pela Santoro], mas se lhe quiser chamar isso...".

Instado a comentar o resultado da assembleia geral, que ocorreu esta quinta-feira, onde Isabel dos Santos vetou as alterações estatutárias destinadas a permitir a sua recondução por mais um mais um mandato (os actuais estatutos impedem a nomeação do presidente executivo com idade igual ou superior a 62 anos), Fernando Ulrich reagiu com ironia: "Tenho boas hipóteses” e “os netos e a vida mais boémia" terão de esperar. Com o fim dos direitos de voto no BPI, a partir de Julho, prevalecerá a vontade da maioria, que já deu luz verde à mudança das regras sobre a idade dos gestores. 

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