Costa concorda com apoio do PS-Porto à recandidatura de Rui Moreira
O partido vai definir a orientação a seguir relativamente às autárquicas no congresso de Junho, mas o PS-Porto inclina-se para fazer um acordo pré-eleitoral com o independente que preside à autarquia.
Os socialistas do Porto preparam-se para apoiar a candidatura de Rui Moreira a um a segundo mandato na Câmara do Porto, em 2017, e o secretário-geral do PS estará de acordo com esta estratégia, que o pode colar a uma vitória eleitoral importante.
Embora haja no partido uma corrente que defende que o PS deve apresentar-se sozinho nas próximas autárquicas no Porto, esse cenário torna-se cada vez mais difícil, devido à forma como o partido se encostou a Rui Moreira ao longo destes dois anos e meio de governação. A ano e meio das eleições, a câmara vira-se para a zona oriental da cidade, apostando em Campanhã, a única freguesia que o PS conquistou em 2013. O presidente elege o antigo matadouro industrial da cidade, que vai ser recuperado para albergar museus, estúdios e empresas criativas e tecnológicas, como “o grande projecto” do seu mandato e lança-se na reabilitação do Bairro São de Deus, que vai custar 4,3 milhões de euros.
As estruturas concelhia e distrital do PS tentam desvalorizar o ruído que se vai ouvindo um pouco aqui e ali pelo facto de os socialistas não apresentarem uma candidatura à segunda câmara do país. O presidente da concelhia, Tiago Barbosa Ribeiro, tenta chegar ao congresso nacional, marcado para 3 a 5 de Junho, em Lisboa, com uma posição consolidada relativamente ao apoio do partido ao independente Rui Moreira. A concelhia está a promover plenários em todas as secções (terminam no final do mês) e os “militantes não têm levantado nenhum tipo de objecção a esse apoio”. “O PS tem feito um bom trabalho na Câmara do Porto e os militantes entendem isso. O que não entendem é que haja pessoas do PS a fragilizar o partido com textos que escrevem na comunicação social”, afirma Tiago Barbosa Ribeiro, numa alfinetada à deputada Isabel Santos e ao ex-deputado José Lello.
Ao PÚBLICO, o presidente da estrutura local garante que os militantes “dão margem à liderança da concelhia para encontrar uma solução que pode passar por um acordo pré-eleitoral”. “É estranho que o PS apresente uma candidatura contra uma solução que ajudou a construir desde o início do mandato de Moreira”, atira, apontando o “alinhamento” que existe entre o autarca e o PS em questões como a cultura, TAP, fundos comunitários e centralismo do ex-Governo”.
O calendário eleitoral autárquico vai ser definido no congresso nacional dos socialistas e, logo que isso aconteça, a concelhia fará uma avaliação política do mandato autárquico e, nessa avaliação – explica o também deputado –, “será apresentada uma orientação política relativamente ao papel do PS nas eleições autárquicas”. Quanto ao método a seguir - referendo ou eleições primárias abertas a simpatizantes do partido - não se alonga: “O que os militantes dizem é que, independente do método, há é uma grande confiança na concelhia”.
Por seu lado, o deputado Renato Sampaio, que já liderou a distrital do PS-Porto - a maior do partido - prefere esperar pela orientação do congresso, mas vai dizendo que a sua posição é clara: “Se o PS vier a apoiar o dr. Rui Moreira, esse apoio tem de ser feito através de uma coligação e o símbolo do partido tem de constar dos boletins de voto”. Questionado sobre se o PS deveria apresentar uma candidatura autónoma, o deputado afirma que sim e aproveita para deixar um recado: “Quando há dois anos o partido viabilizou a gestão da câmara não ficou escrito em lado nenhum que esse acordo amarraria o PS a três mandatos”. Resguardando-se para falar desta questão com mais detalhe nos órgãos próprios do partido, Renato Sampaio reaviva memórias para dizer que, em 1985, o “PS já desistiu de apresentar uma candidatura. Foi com Fernando Cabral (que sucedeu a Paulo Valada) e, quatro anos depois, Fernando Gomes ganhava a Câmara do Porto por três mandatos consecutivos”.
PS deve fazer uma avaliação
Em jeito de sugestão, o ex-líder da distrital, que foi um dos grandes entusiastas do acordo para a governação da câmara que o agora líder da federação, Manuel Pizarro, fez com o independente Rui Moreira, entende que em 2017 o partido deve fazer uma avaliação dos quatro anos de mandato.
No mesmo sentido pronuncia-se o ex-deputado e ex-presidente da Assembleia da República, José Lello, que há dias escreveu um texto de opinião no PÚBLICO a defender uma candidatura ao Porto. “Se o partido optar por apoiar Rui Moreira no final as eleições autárquicas, haverá uma vitória, mas essa vitória não será do PS, porque o símbolo do partido não constará dos boletins de voto”, adverte o ex-parlamentar.
Com os socialistas mobilizados no apoio a Moreira, BE e PCP fazem contas e consideram que podem crescer ocupando o espaço à esquerda do PS. Tratando-se de autarquias, esse crescimento será mais fácil para os comunistas do que para o Bloco, mas este tem mais facilidade em entender-se com estas áreas do PS. Fonte bloquista revelou ao PÚBLICO que “é natural que o partido apresente uma lista sua, mas também pode participar numa lista de cidadãos, que terá mais facilidade em reunir bloquistas, socialistas e anti-Rui Moreira e independentes”.
“Ainda é cedo para discutir nomes. Vamos esperar pela convenção marcada para os dias 25 e 26 de Junho, que vai definir a orientação geral relativamente às autárquicas”, afirma o deputado municipal, José Castro, que faz uma “avaliação negativa” do mandato do actual presidente. “Vamos cumprir o nosso papel: ser alternativa ao programa de Rui Moreira”.
Concentrado “a 200% nas respostas políticas para os problemas do Porto”, o PCP, pela voz de Belmiro Magalhães, afirma que o partido “não está ainda a pensar” na candidatura do Porto. “A seu tempo faremos essa ponderação”, responde o deputado municipal que faz uma avaliação “globalmente negativa” do mandato de Rui Moreira, criticando soluções que a câmara tem adoptado, como a “privatização do estacionamento na via pública e da limpeza pública ou a concessão do pavilhão Rosa Mota. “Este tem sido um mandato que recupera as opções negativas do anterior mandato”, acusa.