Somos todos judeus e alemães

Os preconceitos vão existir sempre, é uma questão de escolher os nossos

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Kacper Pempel/Reuters

Os preconceitos são aquilo que a humanidade finge não ter a fim de projectar a melhor imagem possível de si mesma, como se cada um de nós germinasse no jardim da alma um monge tibetano, vivendo segundo a máxima de que “aquele que se sabe conduzir, até no inferno está em casa”.

Isso nota-se quando alguém como Brian Adams, sem o mínimo pendor para assumir posições políticas, cancela um concerto no Mississipi devido a uma lei que permite discriminação dos cidadãos de acordo com a sua orientação sexual. Nada surpreendente para os mais atentos, já que parece ser para isso que a leis servem: para discriminar. Se os homens e as mulheres são iguais, o chinês é igual ao português e o idoso ao jovem, isso acontece apenas no espírito da lei. Porque na prática a discriminação é positiva ou negativa de acordo com o saldo bancário de cada um, algo que influi directamente no acesso a direitos fundamentais como a saúde, a alimentação ou a educação.

Portanto, hoje em dia mesmo com todas as possibilidades de reverter tal condição, esperem que ainda acreditemos que a justiça é cega e não distingue um Ricardo Salgado ou um Miguel Relvas do senhor que furta uma conserva no supermercado.

Por muito bem intencionada que a lei fosse na superação dos seus preconceitos, já os seus executores, que frequentemente são partes interessadas nos processos legais que conduzem, parecem sofrer de um grave caso de oligarquia. Para resolver tal condição nada como uma verdadeira separação de poderes, o que nalguns casos implicaria provavelmente desmembramento e decapitação, mas há que respeitar a austeridade acima de tudo. Ainda a fim de minizar essa abjecta condição oligárquica, poderia também ser proposto um tratamento de choque consistindo em empregar qualquer dirigente público num estágio curricular durante um trimestre, passando a estagiário do IEFP nos 9 meses seguintes para finalmente conquistar o honroso posto de trabalhador a recibos verdes com um salário mensal de 800€.

Portanto, se a lei tem o direito de descriminar de acordo com os seus interesses, por uma questão de equidade e justiça também o cidadão particular deveria beneficiar da mesma prerrogativa. Assim, o mínimo aceitável seriam situações como propor a um presidente da república moribundo que experimente algo inédito como trabalhar ou inserir a mãe de um ministro no CAE da mais velha profissão do mundo.

Por esta altura já deveríamos ter percebido que é impossível não ter preconceitos e agir segundo os mesmos, sendo por isso preferível fazê-lo à nossa maneira e de acordo com o critério imbecil que escolhermos para nos considerarmos mais dignos de algo do que outra pessoa qualquer. Antes isso do contentarmo-nos com aquela coisa tão portuguesa que é ser uma maria-vai-com-as-outras e aceitar a discriminação pré-fabricada da religião, do nacionalismo, do futebol ou da raça.

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