O diabo insecreto
Eduardo Cunha é o político perfeito do século XIX que acha que o século XXI não é suficiente para o desmascarar.
Continuo fascinado pelos protagonistas do impeachment da Presidente Dilma Rousseff. O vilão mais Dickensiano é Eduardo Cunha, o Presidente da Câmara dos Deputados.
Eduardo Cunha é sublimemente descarado. Arnaldo Jabor e muitas outras pessoas inteligentes dizem que ele é um psicopata. Mas com admiração. E como quem o desculpa: os psicopatas não sentem culpa.
Eduardo Cunha não é apenas um beato hipócrita cuja fé em Deus não é abalada pelo pragmatismo de ter milhões de francos suiços em bancos da mesma nacionalidade.
Eduardo Cunha, quando votou pelo impeachment da Presidente Dilma, disse "Que Deus tenha misericórdia desta nação. Voto sim".
Eduardo Cunha é membro da igreja Assembleia de Deus. Quando fala faz questão de aborrecer quem o ouve. É esse o toque de génio: não quer passar por esperto. Ouvi-lo falar é como morrer devagarinho.
Defende-se - mas pouco. O valente deputado Glauber Braga, quando votou contra o impeachment da Presidente Dilma, começou assim: "Eduardo Cunha, você é um gangster (...) A sua carreira cheira a enxofre (...) Eu voto Não".
Eduardo Cunha apresentou-o com uma frieza e exactidão que mostraram logo quem dominava não só o reino do Mal como o reino do Bom.
Há, na representação política brasileira, uma sinceridade que revela a gula e as vantagens da corrupção. Eduardo Cunha é o político perfeito do século XIX que acha que o século XXI não é suficiente para o desmascarar.
Jair Bolsonaro é apenas um fascista estúpido.