Na última década e meia Rui Maia tem estado particularmente activo. Em primeiro lugar com o grupo X-Wife, dignos representantes do encontro entre electrónicas e resquícios pós-punk, e depois com Mirror People, o projecto onde as memórias disco são reactualizadas até aos dias de hoje.
Faltava-lhe um álbum em nome próprio. Ele aí está. No campo da música de dança é recorrente a utilização de nomes diferentes consoante a sonoridade adoptada, daí que se perceba a opção de Maia em não assinar como Mirror People um álbum mais direccionado para os terrenos tecno.
Mas se o fizesse daí não adviria nenhum mal ao mundo. É verdade que o som é diferente do que tem feito até aqui – algures entre o minimalismo tecno alemão do final dos anos 1990 simbolizado pela Kompakt, e o electro-house da primeira metade dos anos 2000, representado por nomes de espectros distintos como Miss Kittin ou Ivan Smagge – mas a forma como chega lá não é diametralmente diversa. No fim de contas aquilo que parece interessar Rui Maia, independentemente da assinatura, é a feitura de música física que seja capaz de provocar a imaginação.
É uma música tecno poética, sonâmbula e entorpecida, povoada por ocasionais motivos vocais, mais sussurrados que cantados, aquela que se faz ouvir por aqui. Apesar da aparente diversidade é uma obra de grande uniformidade, feita de texturas e ambientes sombreados a preto e branco.
Quem andar à procura de música dançante, garrida e foliona, para celebrar a vida de mãos ao alto, não é aqui que a irá encontrar. Aqui o perfume a festa é de uma elegância decadente, com o contínuo borbulhar electrónico, os clarões de luz, as deslocações ambientais e as partículas digitais circulares a partirem na direcção do infinito, com a música para dançar a arranjar tempo e espaço para contemplar também o horizonte.