Bloco propõe 25 dias de férias para o sector privado
Partido acredita no apoio do PS e recusa estar a esvaziar a concertação social. Proposta passa por consagrar no Código do Trabalho os 25 dias de férias sem as anteriores condições de assiduidade.
Mais do que uma reversão do corte dos três dias de férias extra pela assiduidade decidido pelo Governo PSD/CDS, o Bloco de Esquerda propõe um passo à frente: o partido quer que o Código do Trabalho passe a prever 25 dias úteis de férias para os trabalhadores do sector privado. E diz acreditar que terá, da parte dos socialistas, um bom acolhimento da proposta que só teria efeitos em 2017.
É, portanto, o aumento do período de férias sem quaisquer outras condições. Na apresentação do projecto de lei, o deputado José Soeiro argumentou com dados de estudos internacionais que a eliminação de dias de férias e de feriados “não teve nenhum ganho na produtividade e na criação de emprego” em Portugal. Lembrou que os portugueses trabalham em média mais 500 horas por ano do que os alemães e que parte das nove horas diárias de trabalho não são remuneradas.
“Não estamos a inventar uma coisa nova. Os 25 dias de férias já existiram em Portugal até à alteração, pela direita, em 2012”, disse José Soeiro. A diferença é que os três dias que o Bloco quer somar ao período de descanso anual dos trabalhadores são para somar aos 22 sem condições relacionadas com a assiduidade como existiu durante quase uma década, a partir de uma iniciativa do Governo de Durão Barroso, quando Bagão Félix era ministro do Trabalho – a medida foi incluída na revisão do Código do Trabalho de 2003.
O deputado bloquista defendeu que as regras que estiveram em vigor para a atribuição dos três dias de férias extra tinham uma “injustiça e um critério absurdo: as faltas justificadas contavam como falhas na assiduidade”. E deu como exemplo os casos de faltas justificadas pela morte do cônjuge, mas que se fossem usadas o trabalhador perderia o direito à bonificação dos três dias. E o regime penalizava mais as mulheres por serem estas a assumir grande parte dos cuidados com a família, através da utilização de dispensas previstas na lei, mas que também anulavam a majoração dos dias de férias.
Apesar de esta medida não constar nem do programa de Governo do PS nem de qualquer dos compromissos assinados entre os socialistas e os partidos à sua esquerda, o Bloco diz ter uma “grande expectativa, como aconteceu em relação aos feriados”, de que a sua proposta será acolhida pelo PS – mas recusa especificar se já houve conversações sobre o assunto.
Questionado sobre se ao legislar directamente o assunto sem haver antes uma consulta formal aos parceiros sociais, o Parlamento não está a esvaziar a concertação social – acusação que os bloquistas chegaram a fazer aos processos de decisão da direita, José Soeiro disse que “o que houve nos últimos quatro anos foi a tentativa de esvaziar o Parlamento remetendo questões para a concertação social empatando determinadas alterações”.
O Bloco promete estar “atento” ao que os parceiros sociais disserem – e “a UGT e a CGTP já se pronunciaram, interessa-nos que os outros parceiros se pronunciem” –, mas “em matérias do Código de Trabalho o Parlamento está plenamente legitimado para fazer as alterações que entender ouvindo os parceiros sociais”.