Rangel leva ao congresso a bandeira da mobilidade social

Eurodeputado arrisca uma “proposta com plena consciência de que as mentalidades e as culturas não se mudam por decreto”.

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Paulo Rangel ADRIANO MIRANDA

O eurodeputado do PSD, Paulo Rangel, defendeu este sábado no congresso que o partido deve fazer da mobilidade social a sua “grande bandeira para os próximos anos” e considerou que está na hora de Portugal deixar de ser “o país dos doutores” e “virar a página na estratificação social e na estrutura elitista e aristocrática da sociedade portuguesa”.

“Porque acredito profundamente na mobilidade social como a grande bandeira do PSD para os próximos anos, porque hoje se cumprem 40 anos sobre a aprovação da Constituição, ouso aqui fazer uma proposta socialmente fracturante, uma proposta de ruptura e de inovação social, uma proposta que vira uma página na estratificação social e na estrutura elitista e aristocrática da sociedade portuguesa”, declarou. 

Numa intervenção muito aplaudida e que fugiu ao figurino de todos os discursos feitos no congresso, Paulo Rangel questionou: “Por que razão, ao fim de quarenta anos de democracia – e ao contrário de tantos outros países do nosso espaço –, nós continuámos a diferenciar as pessoas no tratamento entre os que são doutores, engenheiros e arquitectos e os restantes?” E perguntou: “Não terá chegado o tempo, de ao menos, nos documentos oficiais abolirmos esta diferença entre portugueses com título e portugueses sem título?”. A sala explodiu em aplausos.

“Arrisco esta proposta com plena consciência de que as mentalidades e as culturas não se mudam por decreto e que anda aqui – à volta dos títulos, dos doutores dos mestres e dos engenheiros – muita ilusão de mobilidade social. Mas creio que já estamos maduros para fazer essa reforma”, considerou o ex-candidato à liderança do PSD.

A propósito, aproveitou para criticar a esquerda portuguesa que disse “enche a boca com a igualdade e a equidade, mas nunca foi capaz de romper com esta espécie de 'aristocracia cultural' ou nobreza de toga que empesta a sociedade portuguesa”. “Faço este desafio aos deputados do PSD e, em especial da JSD, como medida simbólica, mas expressiva, que, nos quarenta anos da Constituição, ao menos no que respeita aos documentos e actos públicos, que se decrete a abolição do tratamento com base na discriminação universitária”.

Antes de pedir ao presidente do partido que aceite incluir a sua proposta no seu programa, Paulo Rangel disse: “Eis um tema fracturante e que alguns vão dizer que é só simbólico, que é só cerimonial ou protocolar”. “Este é um passo simbólico que deve ser um desígnio que temos de construir”, defendeu depois de dizer que “Portugal continua a viver nesse país maravilhoso, que é o país dos doutores”.

Dirigindo-se aos congressistas proclamou: “O sonho que o PSD do século XXI leva aos portugueses tem de ser o sonho, a aspiração da mobilidade social. A mobilidade social conjuga igualdade com liberdade, justiça com iniciativa, combina o combate à desigualdade, à pobreza e à exclusão com a iniciativa individual, a liberdade e o espírito empreendedor e a empresarial”. Sublinhou depois que, para se atingir “essa mobilidade social, temos de novo de captar para a militância do nosso partido as mulheres e os homens mais empreendedores, mais livres, mais descomplexados, mais desprendidos.”. “Temos todos os meios operacionais para o fazer”, disse, desafiando, os núcleos mais urbanos ou próximos de meios universitários a fazerem uma ligação sistemática ao meio das start ups e a trazer essa geração inovadora e dinâmica para o debate do partido. E mais, muito mais do que isso, sugiro a todos os núcleos e secções que façam uma lista dos emigrantes portugueses da sua área, que entrem em contacto com eles, que os ouçam e os convidem. Os emigrantes, mais ou menos qualificados, mais antigos ou mais recentes, são o melhor do espírito livre e de aventura”. Segundo o eurodeputado, “foram eles que fizeram o grande salto económico dos anos 60, são eles que nos podem ajudar a fazer do PSD o partido da mobilidade social, o partido do sonho português, o partido onde a iniciativa e a liberdade são a alavanca de uma sociedade justa e equitativa”.

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