Desplechin na sua água: um romanesco a explodir de referências “culturais”, labiríntico e falsamente hermético. Três Recordações da Minha Juventude pega numa personagem de um filme emblemático do realizador (o Paul Dédalus de Comment Je Me Suis Disputé) e inventa-lhe uma “juventude”, mas de certa forma o labirinto é mais vasto, porque o filme revisita o tom e o espírito da primeira longa do realizador, La Sentinelle, onde os ecos da Guerra Fria rimavam com uma aura de “fc”, como se Desplechin se anunciasse como uma espécie de herdeiro de Alain Resnais.

Vinte e tal anos, talvez Desplechin não se tenha confirmado como tal, mas as suas visitas ao romanesco a partir de uma perspectiva “pós-moderna”, mesmo no que têm de irrisório ou exasperante, estão entre os filmes mais singulares do cinema francês contemporâneo.