Açores lançam obra para combater a eutrofização da lagoa das Furnas

O estado actual da lagoa ainda não atingiu os "parâmetros qualitativos ambicionados, devido ao volume de carga orgânica que ainda aflui à massa de água, nomeadamente nutrientes como o fósforo e o azoto".

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CARLOS LOPES/arquivo

O Governo dos Açores vai investir 1,5 milhões de euros em mais uma obra para combater a eutrofização da lagoa das Furnas, no concelho da Povoação, na ilha de São Miguel, obra que deverá iniciar antes do Verão.

A abertura de propostas de empresas concorrentes ocorreu na terça-feira e a empreitada, que tem um prazo de execução de 450 dias, visa a construção do canal de desvio de afluentes da ribeira do Salto da Inglesa e de consolidação do leito e margens do canal do Salto do Fojo.

O investimento é justificado com o facto de o estado actual da lagoa ainda não ter atingido os "parâmetros qualitativos ambicionados, devido ao volume de carga orgânica que ainda aflui à massa de água, nomeadamente nutrientes como o fósforo e o azoto".

A empreitada, no âmbito do Plano de Ordenamento da Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas, contribuirá para "a diminuição da afluência de nutrientes para a massa de água, através da redução das escorrências, bem como da sua dinâmica de assoreamento", adianta o executivo regional.

Segundo a Secretaria Regional do Ambiente dos Açores, no passado, "várias áreas das encostas da envolvente da lagoa das Furnas foram transformadas em pastagens, que foram sendo continuadamente adubadas com estrumes e fertilizantes que, por escorrência, chegaram à lagoa", um dos ex-líbris dos Açores em cujas margens se faz o famoso cozido das Furnas. "A consequente acumulação de nutrientes como azoto e fósforo na lagoa conduziu à proliferação de vida vegetal que revestiu as águas de um manto verde, impedindo a sua oxigenação, um fenómeno designado eutrofização", adianta a mesma informação.

No âmbito do Plano de Ordenamento da Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas, o Governo dos Açores, entre outras medidas, adquiriu 300 hectares de terrenos agrícolas, tendo removido o gado e várias toneladas de resíduos. "Depois de se ter feito sentir na massa de água o efeito da retirada das pastagens [...], os últimos dois ou três anos, ou seja, 2012, 2013, evidenciavam um decréscimo não tão significativo quanto seria desejável na evolução do estado" da água da lagoa, explicou o director regional do Ambiente, Hernâni Jorge.

Esta situação "indiciava a necessidade de se fazer um outro tipo de intervenção de natureza preventiva ou curativa", referiu.

O director regional do Ambiente afirmou que a empreitada a concurso pretende "actuar sobre a origem do problema", pois "a bacia hidrográfica da ribeira do Salto da Inglesa e as bacias hidrográficas de toda aquela zona eram responsáveis (...) por mais de 60% dos nutrientes que afluem à massa de água".

"Era fundamental fazer mais qualquer coisa para apressar o processo de evolução e recuperação da massa de água", defendeu, embora admitindo que "a prazo, com a reflorestação e até com o desaparecimento e a diminuição dos teores de nutrientes nos solos circundantes à lagoa, essa evolução haveria de acontecer".

O responsável disse acreditar que com mais esta intervenção "num prazo que não será imediato", mas dentro de uma década, "os efeitos desta intervenção far-se-ão sentir".