Reviravolta no congresso do CDS: há lista opositora

Conselho Nacional do partido terá nomes ligados a Assunção Cristas e a grupo liderado por Filipe Lobo d'Ávila.

Fotogaleria

Um grupo liderado pelo porta-voz do CDS-PP, Filipe Lobo d’Ávila, decidiu mesmo avançar com uma lista ao Conselho Nacional alternativa à nova direcção do partido, numa reviravolta na noite deste sábado no congresso em Gondomar.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Um grupo liderado pelo porta-voz do CDS-PP, Filipe Lobo d’Ávila, decidiu mesmo avançar com uma lista ao Conselho Nacional alternativa à nova direcção do partido, numa reviravolta na noite deste sábado no congresso em Gondomar.

A decisão tinha sido ponderada na tarde deste sábado, chegou a ser dada como certa, mas ao final da tarde houve um recuo. À noite, depois do jantar, deu-se a reviravolta. A lista, encabeçada pelo próprio Lobo d’Ávila, avançou mesmo, depois de o grupo ter sentido uma onda de apoio para essa iniciativa. O mesmo grupo apresenta também uma lista ao Conselho de Jurisdição liderada pelo advogado Pedro Nunes de Melo. A nova direcção de Assunção Cristas não conseguiu, assim, a união que desejava.

Com mais de 100 nomes para o órgão máximo entre congressos, a lista vai integrar vários subscritores da moção de estratégia global "Juntos pelo futuro: compromisso com as pessoas", da qual Filipe Lobo d´Ávila é o primeiro assinante. Nos lugares seguintes, a proposta para o Conselho Nacional apresenta Altino Bessa, líder da distrital de Braga, seguido do ex-secretário de Estado João Casanova de Almeida, o ex-deputado Raul Almeida, António Loureiro, presidente da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, Paulo Almeida, líder da distrital de Coimbra, e o director regional da Segurança Social de Braga, Rui Barreira. Hélder Amaral, que subscreveu a moção, bem como Abel Batista, ambos líderes distritais, decidiram não integrar a lista. Muitas das figuras da lista eram apoiantes ou são muito próximos de Nuno Melo, que decidiu não avançar com uma candidatura, tendo mostrado total apoio a Assunção Cristas.

Já Filipe Anacoreta Correia, líder da tendência Alternativa e Responsabilidade, decidiu não apresentar lista alternativa ao Conselho Nacional. No entanto, Cristas convidou a integrar a comissão executiva.

Apesar da reviravolta da noite foi evidente o apoio que vários dirigentes do partido deram à sucessora de Paulo Portas. A começar pelo próprio Nuno Melo, que, ao início da noite, veio reforçar a ideia de que Assunção Cristas tem todas as condições para presidir ao partido. “Da minha parte lhes garanto, para que não haja qualquer dúvida, que o meu empenho será total e absoluto para que Assunção Cristas tenha uma liderança de sucesso, prolongada e duradoura. O sucesso da Assunção são as vitórias do CDS e, se tiver que não ter sucesso — e vai tiver sucesso —, ter-me-á com ela a assumir todas as responsabilidades”, afirmou. O próprio assumiu o seu papel de pacificador no momento da sucessão. “E quis dar ao CDS, no momento em que o melhor de nós sai — ficando mas sai —, aquele que pode ser o meu maior contributo: a unidade do partido”, declarou.

Antes, já António Pires de Lima, colega de Assunção Cristas no Governo, tinha elogiado o perfil da futura líder. Também Pedro Mota Soares, ex-ministro da Segurança Social, destacou a “fé e talento para liderar o CDS num tempo tão desafiante”. Outros dirigentes históricos que subiram ao palco do congresso para apoiá-la foram Diogo Feio, Teresa Caeiro, Telmo Correia e Celeste Cardona.

Renovação centrista
António Lobo Xavier, número um da lista ao conselho nacional — que continuará a ter como presidente Telmo Correia —, defendeu, por seu lado, que o CDS tem de “a respeitar muito”, porque foi a vontade de Cristas que a levou a candidatar-se. E deixou um conselho: “Não deixe que a limitem em nada”, disse o antigo líder parlamentar e agora conselheiro de Estado de Marcelo Rebelo de Sousa.

Apesar dos apoios à líder que será este domingo eleita, há algum desagrado pela renovação que Assunção Cristas quis impor aos órgãos nacionais do partido. Dispensa os cinco vice-presidentes do CDS e vai promover Adolfo Mesquita Nunes e Cecília Meireles, ambos antigos secretários de Estado do Turismo, para o cargo que está logo abaixo de si e onde só mantém Nuno Melo.

Com a redução de sete vice-presidentes para três, Assunção Cristas (que passará a presidente) prepara-se para afastar os portistas que preenchiam o cargo: Artur Lima (do CDS/Açores), Teresa Caeiro, Pedro Mota Soares, João Almeida e Diogo Feio.

Restarão Nuno Magalhães (que o é por inerência, por ser líder do grupo parlamentar) e Nuno Melo, o único que faz a transição no cargo. Os dois novos vice-presidentes já pertenciam à comissão executiva, o órgão mais restrito do líder do CDS.

Para este núcleo duro entrará Teresa Anjinho, antiga deputada e que entrou no partido pela mão de Assunção Cristas, e Ana Rita Bessa, deputada. São dadas como certas as saídas de Hélder Amaral, vice-presidente da bancada, e de Paulo Núncio, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. A equipa da nova líder justifica esta redução de vice-presidentes com o número desproporcionado destes dirigentes face aos vogais.

João Almeida deverá substituir Filipe Lobo d’Ávila como porta-voz, cargo que já ocupou no partido. Como coordenador autárquico deverá manter-se Domingos Doutel, já que um dos próximos desafios eleitorais são as eleições autárquicas em 2017. Diogo Feio deixa de ser vice-presidente e passará a ser director do gabinete de estudos, tendo até uma direcção própria, em que integrará independentes e militantes.

Mito do voto útil
Na apresentação da sua moção ao congresso, Assunção Cristas defendeu o fim do “mito do voto útil”. Esta tese foi defendida por vários congressistas e lançada de manhã por Paulo Portas, como resposta à solução governativa, encontrada pelo PS com o apoio do PCP, do BE e de Os Verdes.

A ideia procura, assim, abrir um caminho a ser trilhado pelo CDS autonomamente do PSD, mas que possa rentabilizar politicamente o futuro peso eleitoral que o partido venha a ter.

Na apresentação da sua moção global, Assunção Cristas deu uma nota de unidade e declarou que, consigo, “ninguém será excluído do CDS”, convocando todos para darem contributos. “Acreditamos que temos as melhores soluções e os melhores protagonistas para dar as melhores respostas no plano da educação, da saúde, do emprego e do apoio à natalidade”, declarou.

A candidata à liderança considera que há muita reflexão a fazer no partido e revelou que a sua “ambição é ter o Largo do Caldas mobilizado e motivado com acções, com trabalho e aberto a todos e a crescer com a renovação”.