O terror em listas demasiado fáceis
As listas com milhares de supostos membros do EI surgem de forma demasiado fácil. Serão reais?
Não é apenas uma lista, são várias. Segunda-feira, na Alemanha, o jornal Süddeutsche Zeitung e os canais NDR e WDR falavam numa lista que teria quase dois milhares de nomes de combatentes ligados ao autodenominado Estado Islâmico (EI). Terça-feira, a notícia surgiu na Síria, num site ligado à oposição a Assad, especificando que a lista (baseada num formulário de recrutamento do EI) revelava os nomes de 1746 combatentes provenientes de 40 países. Finalmente, na quarta-feira, a britânica Sky News anunciava um verdadeiro jackpot: documentos com quase 22 mil nomes de pessoas ligadas ao EI, entre supostos combatentes, familiares, recrutadores e contactos.
A cadência das revelações, os países onde ocorreram e as discrepâncias entre elas são de molde a levantar suspeitas. Fala-se num suposto desertor decepcionado com o EI, ao qual aderira depois de combater Assad, que terá posto nas mãos do jornalista da Sky um cartão de memória com milhares de nomes. Mas será verosímil, como vingança de um combatente, entregar cartões de memória em lugar de se rebelar contra os "traidores"? A forma como o Ocidente tem sido enganado nestas matérias, e sempre por empenhados "delatores" (o caso das armas de destruição maciça de Saddam é exemplar) aconselha prudência. Até porque há já quem, entre especialistas, note inconsistências e erros nos documentos divulgados.
Mesmo assim, eles poderão conter informações importantes? Isso cabe agora aos serviços secretos apurar. Mas há pelo menos aqui a base para uma gigantesca operação de busca à escala internacional que, ou redundará em triunfo (se houver dados úteis nos documentos) ou num estrondoso fracasso, se se verificar que estas revelações assentam num embuste. De qualquer modo, seria demasiado irónico que o EI, que tão resistente se tem mostrado às bombas e às balas de várias potências, sucumbisse agora a um minúsculo cartão de memória.