Nem contigo nem sem ti

Dois actores notáveis numa história de amor louco que tem pouco de louco.

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O “estado de graça” de Bercot e Vincent Cassel em Meu Rei

Faz agora 30 anos, Betty Blue de Jean-Jacques Beineix tornava-se num pequeno fenómeno internacional com a sua história de amor louco e auto-destrutivo entre Béatrice Dalle e Jean-Hugues Anglade. Meu Rei, que valeu à actriz e realizadora Emmanuelle Bercot o prémio de interpretação feminina em Cannes 2015, revela-se aos poucos ser exactamente uma versão moderna dessa história de amor louco, com uma abordagem mais “feminista”. Tony, a advogada descontraída a que Bercot dá corpo, é levada quase à loucura pela inconstância e volúvel de Georgio, o empresário cuja sedução animal esconde uma dimensão quase esquizofrénica de “senhor do mundo” patriarcal e machista. Como diz o velho ditado, não conseguem viver juntos, mas também não se dão bem separados.

Meu Rei confirma o que de bom há no olhar da cineasta Maïwenn (Polissia, 2011): a sua atenção aos actores e o amor e disponibilidade que lhes manifesta no modo como os filma, amplificada pelo “estado de graça” de Bercot e Vincent Cassel, que se entregam a fundo a esta paixão auto-destrutiva. Mas confirma também a tendência de Maïwenn para o lugar-comum melodramático e para a falta de subtileza com que o articula, aqui piorada pelo facto do filme se desenrolar em parte num centro de recuperação física: Tony lesionou o joelho a fazer esqui e é o seu trabalho de reabilitação que fornece ao filme o “esqueleto” narrativo, com os flashbacks da relação a serem pontuados e comentados pelo “regresso à vida”. É tudo muito certinho e muito previsível, o que numa história que é suposta ser de amor louco é, no mínimo, decepcionante. Felizmente que há os actores, que merecem inteiramente as nossas estrelas, mas não fossem eles e Meu Rei não deixaria rasto.

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