Num relatório divulgado nesta quinta-feira pela antiga juíza do Tribunal de Recurso Janet Smith, a BBC foi acusada de “falhas graves” relativamente ao caso de Jimmy Savile, apresentador de televisão daquela estação televisiva, culpado de abusar sexualmente 72 pessoas, a maior parte delas menores. Apesar das aparentes responsabilidades da BBC, no relatório consta a informação de que os principais dirigentes do canal televisivo britânico não tinham conhecimento dos crimes do apresentador. Em 2012, a polícia britânica afirmou que o excêntrico apresentador de televisão tinha abusado sexualmente de dezenas de vítimas em hospitais e nas instalações da própria BBC, durante cerca de seis décadas. Savile morreu em 2011, com 84 anos.

No relatório, a antiga juíza afirma que alguns indivíduos tinham conhecimento do comportamento de Jimmy Savile. Contudo, considera que não existem provas de que a BBC, enquanto instituição, estivesse ciente dos actos da antiga celebridade televisiva. Apesar disso, deixa fortes críticas e responsabiliza o canal televisivo. “Parece-me que a BBC precisa de demonstrar ao público que leva estas críticas a sério e que fez, ou está a fazer, as mudanças necessárias e apropriadas para garantir que estes terríveis acontecimentos não possam acontecer novamente”, lê-se no relatório. Smith, que iniciou um inquérito independente em Outubro de 2012, considera que a BBC poderia ter impedido que muitos destes abusos tivessem ocorrido.

A antiga juíza denunciou ainda uma “cultura machista” de sexismo e de assédio sexual e uma “atmosfera de medo” na BBC, o que levou os trabalhadores do canal televisivo a manterem o silêncio relativamente às suas preocupações. Acusou ainda o staff da BBC de estar “mais preocupado com a sua reputação do que com a segurança das crianças”.

No total, Jimmy Savile abusou sexualmente de 72 pessoas: 57 do sexo feminino e 15 do sexo masculino. Três incidentes de violação e de tentativa de violação ocorreram nas instalações da BBC, afirmou Smith. Uma das vítimas com quem a antiga juíza falou tinha apenas oito anos de idade na altura em que o crime ocorreu. “Savile tinha um apetite sexual voraz. Estava obsessivamente interessado em sexo”, escreveu.

A maioria dos casos de abuso sexual ocorreu durante a década de 1970, e a maior parte das vítimas estava ligada ao excêntrico apresentador de televisão no programa Top of the Pops. Jimmy Savile utilizava o seu estatuto de celebridade e o facto de ser apresentador da BBC para aliciar as suas vítimas. Convidava-as para assistirem às suas actuações – quer na televisão, quer na rádio – para depois tentar abusar delas sexualmente. 

O relatório afirma ainda que três antigos membros da equipa de Jimmy Savile poderiam tê-lo denunciado, mas que nunca o fizeram.Ted Beston, produtor do programa de Savile na Radio 1, Canon Colin Semper, produtor do programa Speakeasy, e Douglas Muggeridge, responsável dos programas na Radio 1 e 2 em 1973, tinham “claramente” conhecimento que Savile mantinha relações sexuais com adolescentes. Contudo, nunca reportaram as suas preocupações aos dirigientes da BBC.

Entretanto, num comunicado em resposta ao relatório de Janet Smith, o director-geral da BBC, Tony Hall, afirmou que “lamenta imenso” o que aconteceu às vítimas dos abusos sexuais de Jimmy Salive, considerando esse período um “capítulo negro” na história da BBC. Já Rona Fairhead, presidente da BBC Trust, lamentou a situação na rede social twitter. “Em nome da BBC e do seu staff do passado e do presente, quero pedir desculpa às vítimas por tudo o que sofreram. Quero também comprometer-me directamente com eles, garantindo que a BBC faz tudo o que é possível para prevenir que casos como este ocorram no futuro”.

Texto editado por Joana Amado