Uma segunda mão que nunca passou de uma formalidade
FC Porto fechou a participação nas competições europeias com nova derrota frente ao Borussia Dortmund (0-1).
Quando, ao intervalo, Thomas Tuchel retirou de campo Mats Hummels e Ilkay Gundogan percebeu-se que, para o Borussia Dortmund, a eliminatória estava resolvida. Nessa altura, os alemães venciam no Estádio do Dragão por 1-0, elevando para 3-0 a vantagem nas duas mãos, e o FC Porto parecia incapaz de beliscar o favoritismo do segundo classificado da Bundesliga. Ainda deu um ar da sua graça, mas foram apenas fogachos que não apagaram a impressão de que este duelo foi sempre desigual. Os “dragões” estão fora de cena, o Borussia sai reforçado na luta pela Liga Europa.
Foi essencialmente nas alas que José Peseiro surpreendeu desta vez — é certo que também realojou Layún no centro da defesa, mas o estado de necessidade do FC Porto nesse sector faz com que essa alteração já não seja novidade. Varela de um lado, Marega do outro. No banco ficaram Brahimi e Corona e o jogo habitualmente mais interior do mexicano. A ideia seria explorar a profundidade que normalmente Marega garante ao jogo ofensivo — até porque Schmelzer é um lateral que sobe com regularidade —, mas a intenção nunca passou disso mesmo.
O Borussia, também disposto em 4x3x3, teve sempre a seu favor o mérito de cobrir bem as costas dos laterais nos momentos de organização ou transição ofensivas, especialmente graças ao apoio de Weigl, e a vantagem que trazia da Alemanha. Foi em cima dela que se sentou à espera da primeira oportunidade. Mkhitaryan tentou aos 7’ e, aos 23’, a bola só parou no fundo da baliza. O FC Porto perdeu a posse no meio-campo contrário, Danilo tentou em vão a intercepção e a equipa ficou exposta, no miolo, ao contragolpe. Mkhitaryan assistiu Reus, o alemão testou os (apurados) reflexos de Casillas e, na recarga, Aubameyang, partindo de posição irregular, atirou para o 0-1.
A UEFA atribuiu o golo ao guarda-redes do FC Porto, o último a tocar na bola antes de cruzar a linha, mas esse era apenas um pormenor. O drama para os “dragões” era ficarem arredados demasiado cedo de uma hipótese de lutar por algo mais que uma impossibilidade.
Confortáveis na gestão dos timings do jogo, e exímios na circulação de bola (tal como em Dortmund, o Borussia bateu o rival neste capítulo: 59% de posse contra 41%), os alemães baixaram um pouco as linhas e esperaram pelo adversário. O FC Porto demorou a chegar mas bateu à porta da baliza de Roman Burki perto do intervalo, primeiro por Evandro (boa diagonal e remate cruzado) e depois por Varela (cabeceamento oportuno após assistência de Layún). O segundo lance só não redundou no 1-1 porque o guarda-redes suíço fez uma defesa daquelas que se colam no álbum das recordações.
Pedia-se o impossível para a segunda parte e Thomas Tuchel respondeu ao desafio fazendo descansar dois jogadores nucleares (um dos quais regressou nesta quinta-feira à competição) e instruindo a equipa a ser ainda mais conservadora e criteriosa no passe. Danilo ia anulando as tentativas de Kagawa sair em condução, mas o Borussia não parecia incomodado e limitava-se a circular a bola em zonas recuadas, fazendo do guarda-redes uma espécie de ponte permanente para o desgaste do tridente ofensivo “azul e branco”.
Quando José Peseiro chamou Suk ao banco, depois do aquecimento, ainda se equacionou uma mudança de sistema, mas as dúvidas desfizeram-se rapidamente com a saída de Aboubakar (que pouco antes tinha falhado por pouco um desvio de calcanhar). O sul-coreano assegurou mais mobilidade ao ataque e ainda assustou Burki, mas a noite era do guarda-redes suíço. Tal como o comprovaria aquele remate de Brahimi (lançado aos 66’ para a vaga de Varela) à trave.
A resposta chegaria pouco depois pelos pés de Mkhitaryan, com um disparo cruzado devolvido pela base do poste da baliza de Casillas, que ainda viu o árbitro assistente invalidar (e bem) por duas vezes dois lances que terminaram no fundo das redes. Nesse momento, o Borussia, tirando partido da quebra física que também teve o mérito de provocar no FC Porto, estava como peixe na água à espera de lançar a velocidade de Aubameyang (e depois de Adrián Ramos).
Mas já nada se alterou. Nem o resultado, nem a convicção de que a segunda mão destes 16 avos-de-final nunca passou de uma mera formalidade.