Dickensiano mas bom
Dickensian é um triunfo do profissionalismo da televisão britânica.
No domingo foi transmitido pela BBC 1 o vigésimo e último episódio da série Dickensian. Tony Jordan, um dos autores da telenovela EastEnders, teve uma grande lata. Pegou nalgumas personagens de romances diferentes de Dickens e juntou-as numa série de enredos que ora seguem os originais ora partem em novas direcções.
Os episódios têm só 30 minutos, estão cheios de peripécias melodramáticas e acabam todos com uma surpresa. Os intérpretes cumprem o paradoxo britânico: são excepcionais, como sempre.
A BBC programou caoticamente os episódios, como se tudo fizesse para nos trocar as voltas. O episódio final começou às 18h35m, hora maldita.
Mas Dickensian conseguiu ultrapassar todas estas barreiras. Foi um folhetim sensacional, à maneira de Dickens. Tem a liberdade, a irreverência e a indignação moral de Dickens.
Tem havido belas adaptações de romances de Dickens mas todas elas tendem a atenuar o sentimentalismo desenfreado e a descarada manipulação narrativa que Dickens empregava para excitar e comover multidões.
Dickensian, para o bem e para o mal, é a adaptação que mais se aproxima da sensação maravilhosa de ler Dickens quando se é adolescente. Sabemos que é ficção mas também sabemos que assenta sobre condições de vida que eram verdadeira e terrivelmente injustas, cruéis e hipócritas.
A fan fiction profissionalizou-se. Dickensian é um triunfo do profissionalismo da televisão britânica. Não é Dickens. Mas é certamente Dickensiano.