Morreu Douglas Slocombe, director de fotografia de Indiana Jones
Tinha 103 anos. Fotografou oito dezenas de filmes, entre Inglaterra e Hollywood.
Era um dos raros centenários da história do cinema: Douglas Slocombe, o inglês que foi director de fotografia dos três primeiros capítulos da saga Indiana Jones, morreu nesta segunda-feira em Londres, aos 103 anos. Estava hospitalizado desde Janeiro, quando uma queda o obrigou a sair da sua casa, onde vivia a sua reforma depois de em 1989 ter assinado o seu último trabalho para o cinema com a fotografia da sua terceira colaboração com Steven Spielberg e Harrison Ford, Indiana Jones e a Grande Cruzada.
Para trás ficara uma extensa carreira de oito dezenas de títulos, que se começou a notabilizar logo nas décadas de 1940-50, quando foi convidado a trabalhar para as comédias do estúdio britânico Ealing.
Douglas Slocombe “adorava a acção de fotografar; foi um grande colaborador meu e era um ser humano fantástico: era acessível, entusiasta”, disse Spielberg, citado pela BBC, comentando o desaparecimento do seu director de fotografia em Os Salteadores da Arca Perdida (1981) e Indiana Jones e o Templo Perdido (1984), além do já citado A Grande Cruzada. Spielberg acrescentou que se Harrison Ford era o herói dos seus filmes à frente da câmara, Slocombe cumpria esse papel ao lado da cadeira do realizador.
Nascido em Londres a 10 de Fevereiro de 1913, Douglas Slocombe cresceu em França, mas regressou a Inglaterra aos vinte anos, onde começou a trabalhar como fotojornalista: colaborou com a Life Magazine e a Paris-Match até ao início da Segunda Guerra Mundial, e foi já com a câmara de filmar que, em 1939, registou a invasão da Polónia pelas tropas nazis – trabalho que integrou o documentário Lights out in Europe (1940), realizado por Herbert Kline.
Durante a guerra, tornou-se operador de câmara, tendo trabalhado com autores como Alberto Cavalcanti, em A Dança da Morte (1945), e entrou depois no Ealing Studios, onde assinou a fotografia de clássicos e comédias com Alec Guinness, como Oito Vidas por Um Título (1949), Roubei Um Milhão ou O Homem do Fato Claro (ambos de 1951).
Numa carreira depois dividida entre a Inglaterra e a América, Slocombe acertou o registo da fotografia às exigências dos projectos, dos argumentos e dos realizadores com quem ia trabalhando. “O meu pai adorava o seu trabalho. Para ele, todos os filmes eram diferentes, e adaptava as suas ideias aos argumentos. Gostava muito de filmar a preto e branco, mas, mesmo quando rodava a cores, trabalhava muito os contrastes”, disse a sua filha única, Georgina, no momento em que anunciou a morte do pai à AFP.
No seu país natal, Slocombe viu o seu trabalho reconhecido e celebrado com uma dezena de nomeações para os BAFTA, das quais venceu três: com O Criado (1963), de Joseph Losey, com Dirk Bogard e Sarah Miles; O Grande Gatsby (1974), de Jack Clayton, com Robert Redford e Mia Farrow; e Júlia (1977), de Fred Zinneman, com Jane Fonda e Vanessa Redgrave. Em Hollywood, ficou-se pelas nomeações, por este último filme, mas também por Viagens com a Minha Tia (1972), de George Cukor, com Maggie Smith; e pelo primeiro Indiana Jones.
Em 1981, Slocombe foi convidado a integrar o júri do Festival de Cannes.