Candidato anti-Trump pode ganhar forma no Nevada

Depois da desistência de Jeb Bush, e a uma semana da "Super Terça-feira", o estado do Nevada é o primeiro teste à viabilidade de um nome no Partido Republicano que possa fazer frente ao magnata.

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Donald Trump lidera as sondagens no Nevada e a nível nacional Spencer Platt/AFP

A corrida para a escolha do candidato do Partido Republicano à Casa Branca tem esta terça-feira mais uma etapa, no Nevada, e se as sondagens continuarem a acertar quase em cheio, o magnata Donald Trump vai meter ao bolso a maioria dos 30 delegados que estão em jogo. Mas, apesar da importância de um estado onde o brilho de Las Vegas convive com uma taxa de desemprego superior à da média nacional, a verdade é que os olhos já estão postos no jackpot da próxima semana – no dia 1 de Março, os candidatos vão lutar por 595 delegados em 12 estados, naquela que será a primeira grande batalha pela nomeação final.

Entalada entre o bombástico anúncio da desistência de Jeb Bush, na noite de sábado para domingo, e a magnitude avassaladora da "Super Terça-feira" da próxima semana, a votação no Nevada viu-se transformada em pouco mais do que uma obrigação de picar o ponto para os candidatos do Partido Republicano (Hillary Clinton e Bernie Sanders, do Partido Democrata, foram a votos no Nevada no sábado passado, com a antiga secretária de Estado a somar 19 delegados e o senador do Vermont 15).

Em jogo para os cinco candidatos do Partido Republicano estão apenas 30 delegados, que vão ser distribuídos de forma proporcional, ao contrário do que aconteceu nas eleições primárias de sábado na Carolina do Sul, onde a maioria dos votos deu a Donald Trump a totalidade dos 50 delegados (no longo processo de escolha dos candidatos do Partido Republicano e do Partido Democrata, alguns estados distribuem os seus delegados de forma proporcional e outros preferem o método conhecido como winner-takes-all).

Para além dessa diferença em relação à Carolina do Sul, os eleitores do Nevada também não escolhem os seus delegados em primárias, mas sim em caucus – os eleitores reúnem-se em assembleias, em locais como escolas ou igrejas, e trocam argumentos sobre os méritos dos vários candidatos antes de escolherem um deles através de voto secreto. No caso deste caucus em particular, no Nevada, só pode votar quem estiver registado no Partido Republicano antes de terça-feira.

As sondagens no Nevada são mais falíveis do que nos outros estados que já foram a votos (Iowa, New Hampshire e Carolina do Sul) devido à pouca participação dos eleitores, mas as duas mais recentes, realizadas na semana passada, indicam que Donald Trump terá mais uma vitória confortável – a CNN dá-lhe uma vantagem de 26 pontos em relação ao senador Marco Rubio (45% contra 19%) e a empresa Gravis põe o magnata 16 pontos à frente do senador Ted Cruz (39% contra 23%).

A não ser que o planeta comece a girar no sentido contrário e Donald Trump saia do Nevada com um incrivelmente surpreendente 2.º ou 3.º lugar, o principal ponto de interesse será avaliar se Marco Rubio foi mesmo o principal beneficiado com o abandono de Jeb Bush.

Numa maratona eleitoral que ainda vai no início, há pelo menos duas certezas – Donald Trump já não é a anedota que muitos pensavam que ele seria, e os líderes do Partido Republicano precisam urgentemente de um candidato forte que dê luta ao magnata do imobiliário e estrela da televisão, em nome de uma linha política mais tradicional.

Para além de Trump, com as suas declarações e propostas vistas pelos opositores como xenófobas e racistas, o chamado establishment do Partido Republicano tenta também por todos os meios eliminar a ameaça do senador Ted Cruz, que representa uma ala ultraconservadora e evangélica. O objectivo, traçado nos gabinetes dos líderes Republicanos, é catapultar o jovem e mais flexível Marco Rubio para a frente, aproveitando o eleitorado que até agora votara em Jeb Bush.

O problema é que o senador da Florida ainda não está sozinho na luta interna contra Trump (e Cruz), e os eleitores não estão numa aula de matemática. O governador do Ohio, John Kasich, que é o outro candidato do establishment, deu sinais de que vai continuar na corrida pelo menos até 15 de Março, à espera de uma vitória no seu estado; e ninguém pode garantir que a maioria dos eleitores de Jeb Bush desata a votar em Marco Rubio.

Para se manter como a esperança do establishment, o senador da Florida precisa de terminar à frente de Ted Cruz no Nevada e na maioria dos estados que vão a votos na "Super Terça-feira", e esperar pela desistência de John Kasich mais lá para a frente. Se os candidatos que não se chamam Donald Trump sobreviverem politicamente às próximas semanas, Marco Rubio poderá aproveitar as primárias na sua Florida para enfrentar o bulldozer milionário– no dia 15 de Março, numa espécie de "Super Terça-feira Parte II", a maioria dos estados entregará todos os seus delegados ao candidato mais votado, e não de forma proporcional.

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