Alunos engravatados reviram problemas do mundo e discutem-nos a sério

Mais de 200 estudantes discutem violência doméstica, saúde pública, pena de morte, ao estilo da ONU.

Foto
Martim Henrik

É a oitava edição do Oporto Model United Nations do Colégio Luso Internacional do Porto (CLIP) e o Conselho de Segurança está reunido. Eles vestem fato e gravata, elas roupas sóbrias, formais sem exagero. Em cima da mesa, bandeiras de vários países. Só se fala inglês e o tema é a pena de morte. Katie Patient, 15 anos, canadiana, representa a delegação dos Estados Unidos, e tem à perna vários delegados que a confrontam com execuções. Katie está preparada, leu sobre o assunto, tem os argumentos estruturados. “Claro que a pena de morte causa medo, pune pessoas. É uma forma de punir serial killers, terroristas”, diz. Katie não concorda com a pena de morte, mas tem de vestir a pele. E fá-lo bem. “Não é muito difícil, gosto de analisar perspectivas diferentes”.

Mais de 200 alunos de 12 escolas, com idades entre os 14 e os 16 anos, são diplomatas por três dias e participam em diferentes comités, ao estilo da Organização das Nações Unidas (ONU), para discutir problemas do mundo e apresentar soluções. Pede-se diálogo, cooperação, capacidade de argumentação, espírito crítico. Os debates começaram na quinta e terminam este sábado.

Violência doméstica, direitos humanos, desarmamento, terrorismo, saúde pública, posse de armas, são os temas fortes. Pedro Gaspar Silva, 14 anos, veste fato e gravata e representa a Rússia no Conselho de Segurança. “O país mais divertido de representar”, comenta. Rússia não aplica a pena de morte há 40 anos e Pedro aproveita para apresentar uma cláusula para banir a morte dolorosa, por enforcamento. Tem de convencer os colegas. O que realmente o preocupa é o terrorismo. “As razões do terrorismo são uma estupidez”. E a sua geração será capaz de mudar o mundo? “Vai mudar o mundo, que é o que todas as gerações fazem, só espero que para melhor”, responde.

Leonor Bischoff representa a Austrália no comité em que se discute violência doméstica e saúde pública. Tem 15 anos, anda no 10.º ano na Escola Alemã de Lisboa, e tem os olhos no papel onde escreveu algumas soluções. Alocar entre 15 a 20% do PIB à saúde pública, diminuir os custos no sector público e aumentar os impostos aos hospitais privados, investir na educação das crianças na questão da violência doméstica. A desigualdade de género preocupa-a. “Apesar de tudo o que tem acontecido, não há nenhum país que possa dizer que há igualdade entre homens e mulheres”. A colega Rita Rabeço, representante da Malásia, concorda. “Os homens continuam a ganhar mais do que as mulheres e as mulheres têm de trabalhar o dobro para chegar aos mesmos lugares”.

Maria Pedro representa Cuba no comité e conta que esse país é um modelo a seguir na área da saúde pública. “Têm uma saúde preventiva, fazem checks ups anuais gratuitamente”. O racismo e a poluição são dois assuntos em que pensa com alguma regularidade. “O racismo é uma estupidez, somos todos iguais, independentemente da cor”. O aquecimento global também não a deixa sossegada. “Há várias cidades na China em que os habitantes têm de andar de máscara”. Maria acredita que a sua geração é capaz de mudar o mundo. “Mudá-lo sim, salvá-lo não sei”.

Lutar pela mudança
O Oporto Model United Nations começa a ser preparado em Setembro. Francisca Meireles, 17 anos, é a secretária-geral e tem muita responsabilidade. Organizar o evento, convidar as escolas, escolher os temas. Nos três dias, desdobra-se nas suas funções e pensa no que vai sendo discutido. Não é apenas nos países menos desenvolvidos que a saúde pública é maltratada. “Nos Estados Unidos, milhares de pessoas morrem todos os anos por não terem dinheiro para um seguro de saúde. Choca bastante um país desenvolvido, com tanta tecnologia, não ter o mais básico que é a saúde pública”. Mariana Cura, 17 anos, é presidente dos direitos humanos. “Não podemos ignorar o mundo, temos de debater, de lutar para que as coisas mudem”. As desigualdades preocupam-na, o coração fica apertado quando vê barcos lotados de refugiados, apetece-lhe gritar. “É chocante”. Mariana Fonseca, 17 anos, é vice-secretária-geral e acredita que o problema da violência doméstica se resolve “através da educação” e causa-lhe confusão que a violência doméstica entre namorados não tenha qualquer tratamento judicial.

Isabel Morgado, directora do CLIP, está satisfeita com a iniciativa. “Obriga a pensar nos grandes problemas que o mundo enfrenta. Como estão expostos a informação instantânea é importante perceber como ler essa informação, como olhar para ela, e a omitirem uma opinião de forma crítica e estruturada”. O conhecimento fundamentado é uma premissa relevante. Os alunos participam, discutem problemas, analisam soluções. “Saem motivados para discutir questões, encontrar soluções, lutar pela mudança”.

O CLIP é um colégio privado, tem 820 alunos, do pré-escolar ao 12.º ano, de 34 nacionalidades, 70% são portugueses, as aulas são dadas em inglês, e as turmas não têm mais de 22 alunos.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários