Um história de tapetes com raízes nos mouros de Lisboa
Muitas são as questões quanto à origem e autenticidade dos tapetes de Arraiolos. Não é fácil identificar um tapete verdadeiro, muito devido ao desconhecimento dos compradores.
Quando surgem os tapetes de Arraiolos?
Não se consegue precisar uma data para o início da produção dos tapetes. A primeira referência data de 1598 e os investigadores acreditam que a origem esteja ligada aos tapeteiros muçulmanos de Lisboa, expulsos por D. Manuel em 1496. A caminho de Espanha e do Norte de África, alguns mouros ter-se-ão instalado em Arraiolos, território mais tolerante no que toca à religião, onde mantiveram as profissões que desempenhavam.
Quais os materiais utilizados?
Os materiais para a confecção dos tapetes são simples: Uma base de estopa — um derivado do linho que é utilizada como a “tela em branco” do tapete — e a lã de ovelha pura, que é tingida para dar cor à tapeçaria. A pura lã de ovelha é 100% portuguesa e, actualmente, vem de Minde.
Como é que são bordados os tapetes?
Estes tapetes são costurados com um ponto próprio: o ponto de Arraiolos, que é um ponto cruzado oblíquo composto por duas meias cruzes, uma das quais tem o dobro do comprimento da outra. Essas duas formam um ponto completo e fazem-se ambas dentro da mesma altura do tecido. A arte deste ponto é transmitida em Arraiolos de geração para geração.
Que padrões são utilizados nos tapetes?
Segundo Sertório Carrasqueira, encarregado na fábrica Lóios, existe uma convenção quanto aos padrões dos tapetes, organizada por épocas, correspondentes à sua evolução histórica. A primeira época é inspirada nos tapetes persas, onde são visíveis os pés-de-flor. A segunda época começa a retratar nos tapetes elementos locais: começam a ser bordados pássaros, pequenos animais e motivos campestres. A terceira fase, que corresponde aos finais do séc. XVIII, imprime mais motivos florais.
Quem produz a tapeçaria arraiolense?
Em Arraiolos, quem mais ordena na produção são as mulheres. Nas fábricas trabalham apenas senhoras. Em casa, o caso muda de figura, mas quase sem que ninguém o saiba, porque os homens ainda têm vergonha de admitir que bordam tapetes, embora admitam a elaboração de desenhos. Neste momento, existe a produção em fábrica, onde as funcionárias são remuneradas mensalmente, e existe a produção familiar, feita nas aldeias, depois levada para os pontos de venda, sendo essa paga à peça. Como relatou Sertório ao PÚBLICO, infelizmente a mão-de-obra encontra-se envelhecida, e já “só trabalham senhoras dos 50 para cima. Há muito poucas (raparigas) novas que ainda vão aprendendo na família mas não fazem disto vida”. Sertório e Rui Lobo, do Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos (CITA), concordam no que toca à remuneração dos tapeteiros: a é baixa. Na fábrica de Sertório, as funcionárias recebem apenas o salário mínimo.
Quantos produtores existem?
Segundo o CITA, existem nove produtores.
Como é que nos certificamos que estamos perante uma tapeçaria original de Arraiolos e não de uma falsificação?
Apalpando e cheirando. O tapete original de Arraiolos é feito à mão, seguindo uma técnica de bordar que passou de mães para filhas, desde há muitas gerações. Para o tapete ser original, tem de se sentir, ao toque, que este tem uma textura irregular. Se cheirar a ovelha, também é bom sinal, pois a tapeçaria arraiolense tem de ser feita de lã pura de ovelha. Se o tapete for muito perfeito e lustroso, desconfie.
Quais os preços dos tapetes neste momento?
O metro quadrado de tapete original de Arraiolos ronda, neste momento, o preço de 210/220 uuros mais IVA.
É um produto certificado?
Ainda não. Os produtores anseiam para que a esta possa estar pronta o quanto antes, para poderem ver o seu produto valorizado, podendo assim cobrar um valor mais justo pelas peças de maneira a conseguir remunerar melhor as trabalhadoras e assim conquistar mão-de-obra mais jovem para o sector. Para se ter certeza absoluta de que um tapete é de Arraiolos, tem mesmo de o comprar na vila alentejana.
Quem são os principais consumidores dos tapetes?
Segundo o CITA, além dos portugueses, são os brasileiros quem mais compra e aprecia.
Tapete de Arraiolos, Património da Humanidade?
É uma possibilidade que está a ser tratada. Como disse ao PÚBLICO Rui Lobo, “o dossier de candidatura, com todas as suas complexidades e especificidades, está a ser elaborado em colaboração com a Entidade Regional de Turismo do Alentejo, estando, neste momento, ainda numa fase intermédia, seguindo dentro da normalidade e dos prazos que um projecto desta importância requer”.
Texto editado por Ana Fernandes