Grandiloquente e desmesurado
Não se descobre nada de novo no novo Tarantino, mas o homem respira tanto cinema que este é o nosso preferido dele desde Kill Bill.
É impossível olhar para Os Oito Odiados sem sentir que o novo filme de Quentin Tarantino fecha uma espécie de círculo, como se tivesse partido de Cães Danados para chegar, um quarto de século depois, a uma versão simultaneamente mais formalista e mais controlada dessa estreia. É verdade que Os Oito Odiados, na sua dimensão de huis-clos disfarçado de western, é mais do mesmo que Tarantino anda a fazer desde Kill Bill: um objecto fetichista do cinema de género e de bairro (quixoticamente recuperando os 70mm que estavam mortos e enterrados há anos, encomendando banda-sonora a mestre Morricone).
Mas é também verdade que o seu virtuosismo de argumentista e encenador nunca se terá espraiado tanto como neste objecto grandiloquente e desmesurado, paredes-meias com o grand guignol, com um trabalho extraordinário de fotografia de Robert Richardson e o papel da vida de Samuel L. Jackson. E, mesmo reconhecendo que Tarantino não está tanto a desbravar território como a explorar recantos do que já conhece, há tanto amor ao cinema que é impossível resistir ao que, para nós, é o seu melhor filme desde, precisamente, Kill Bill.