Digníssima esta segunda vida dos Suede

A juventude ficou lá atrás e a banda encara de frente essa tomada de consciência. Fá-lo da única forma que sabe: tentando fazer da canção um épico pop.

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Com Night Thoughts a ideia de segunda vida é definitiva

Caso estejamos a falar do rock no século XXI, quando é possível ouvir um Roger Daltrey septuagenário cantar o famoso verso “hope I die before I get old”, do clássico My generation, dir-se-á que a juventude é sobrevalorizada. Sê-lo-á, mas é inescapável: uma sombra que pairará vida fora, quando se queda distante no tempo mas, também, cada vez mais romantizada na memória – e aqui, naturalmente, já não estamos a falar estritamente do rock’n’roll.

“When you are young there is nothing right and nothing wrong” – existe o momento e mil possibilidades em aberto em cada minuto que passa. A frase citada é de When you are young, a primeira canção de Night Thoughts, o novo álbum dos Suede, o segundo depois do regresso em 2010, que foi anunciado como reunião fugaz para um concerto, mas que se transformou em segunda vida para a banda britânica. Em 2013 recebemos o primeiro disco em 10 anos, Bloodsports. Três anos depois, com o lançamento de Night Thoughts, a ideia de segunda vida é definitiva. 

Nos anos 1990, os jovens Suede pegaram no legado de Bowie e dos Smiths para cantar um novo glamour para novos “pretty things”, inscrevendo-se dessa forma na era do brit pop, qual terceira via entre a pompa rock’n’roll dos Oasis e a sageza pop dos Blur. Na segunda década do século XXI, os veteranos Suede (Brett Anderson, o vocalista, está a dois anos dos 50) mostram saber envelhecer com graciosidade.

Night Thoughts é um álbum ambicioso - acompanha-o um filme de Roger Sargent, fotógrafo do New Musical Express, e foi apresentado pela primeira vez, em Londres, enquanto filme concerto. Na obra de Sargent, vemos um homem que se afoga e que recorda o que lhe aconteceu até ali chegar - os sonhos de juventude, as desilusões, as pequenas e grandes tragédias que a vida oferece. A música acompanha-o em modo tipicamente Suede, ou seja, com um romantismo que se manifesta na vontade de fazer de cada canção uma proclamação grandiosa, uma forma de a pop superar a vida ela mesma.

A orquestra impõe o tom logo a início – é um álbum à antiga, para ouvir do princípio ao fim sem interrupções, e a majestosidade daquele primeiro momento indica isso. Ao longo de doze canções, das guitarras muito Johnny Marr de No tomorrow, reverberação rockabilly amplificada para grandes palcos e proclamações, à androginia que é imagem de marca de Anderson; da dança desencantada de What I’m trying to tell you à celebratória Like kids, daí para as baladas nocturnas, como a acústica I can’t give her what she wants, os Suede de Night Thoughts mostram-se orgulhosamente fora do tempo. A juventude ficou lá atrás e a banda encara essa tomada de consciência. Fá-lo da única forma que sabe: tentando fazer de cada canção um épico pop que nos arraste na convicção de um refrão, na ideia de que podemos encontrar um refúgio para as zonas cinzentas da vida. Digníssima esta segunda vida dos Suede.

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