Ler é que é bom
O que civiliza não são os escritores e muito menos os livros: são os leitores.
A bela reportagem de Isabel Lucas – “Há livros que nos podem fazer mal?” – foi o texto mais lido do PÚBLICO online. O título recebe respostas gloriosamente contraditórias, entre as quais a mais inspiradora é “claro que sim”.
Para ajudar a complicar o que não pode correr o risco de ser simples a minha amiga Manuela Correia, que conhece o amor e o poder dos livros diz, tanto como leitora, psiquiatra e pessoa inteligente, interessada em aproximar-se das múltiplas verdades, que “estamos perante uma excessiva psiquiatrização da sociedade”.
Os livros, só por si, não podem fazer-nos mal nem bem. É a leitura que tem esse poder. Os livros são as coisas escritas que, caso sejam escritas por escritores que sabem escrever, são lidos compulsivamente por leitores.
Falar em ler e livros é como distinguir o respirar do ar que se respira. Ler é uma casa aonde se volta, mais do que umas férias. É a vida que interrompe – e, conceda-se, ilumina – a leitura. Não é ao contrário, a não ser para os que não têm a sorte contra-solitária de precisar de ler para fugir à chatice da vida.
Não são os livros que nos salvam. O que nos pode salvar é a necessidade física de ler –e de nos subtrairmos à tresloucada actividade iletrada de fazermos qualquer coisa.
O que civiliza não são os escritores e muito menos os livros: são os leitores. Os livros só nos podem fazer mal ou bem se nós deixarmos. Quanto mais livros lermos, menos deixamos. É uma questão de quantidade.