Heterónimos e alucinados
Lisbon Revisited é um objecto experimental à atenção dos completistas de um cineasta prolífero: Edgar Pêra.
Ainda agora Edgar Pêra acaba de estrear no festival de Roterdão o documentário O Espectador Espantado, e eis que chega às salas o seu filme-colagem inspirado por Pessoa, Lisbon Revisited, desvendado em Locarno 2014 (entre os dois já houve a comédia mainstream Virados do Avesso e a curta experimental, A Caverna).
É mais uma das experiências formais do fervilhante realizador, aqui retomando o 3D que tem sido um dos “centros de gravidade” da sua produção recente; não é tanto um objecto narrativo tradicional como uma paisagem sensorial à volta de vozes, fragmentos de texto, música erudita romântica e imagens de Lisboa manipuladas ao extremo. O encontro entre a alucinação Pêreana e os heterónimos Pessoanos, contudo, não funciona tão bem como seria de prever, como se Lisbon Revisited fossem dois filmes que correm em paralelo sem nunca se encontrarem verdadeiramente: um filme sonoro que é um portento de inquietação e sugestão, e uma ilustração visual surpreendentemente repetitiva e redundante. É um objecto maioritariamente à atenção dos completistas do autor.