Entre 10% e 20% dos menores desacompanhados que chegam a Portugal desaparecem

Estimativa é do Conselho Português dos Refugiados, feita com base nos pedidos de asilo que dão entrada no país. E são cada vez mais as solicitações de menores, sobretudo do Mali, Guiné-Conacri, Nigéria e Sri Lanka.

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Centro de Acolhimento para Refugiados da Bobadela Rita Baleia

Entre 10% e 20% dos pedidos de asilo de menores não acompanhados, que chegam a Portugal, dizem respeito a crianças que acabam por desaparecer, estima Teresa Tito de Morais, presidente do Conselho Português dos Refugiados (CPR). São menores a quem se perde o rasto. As declarações de Teresa Tito de Morais à Antena 1, nesta segunda-feira, surgem a propósito dos dados da Europol que indicam que mais de dez mil crianças desacompanhadas desapareceram na Europa entre 18 e 24 de Dezembro de 2015.

Muitas das crianças que chegam a Portugal, segundo informa o CPR, estão em trânsito, procuram as famílias na Europa e, provavelmente, acabam por sair do país em busca dos familiares. É impossível saber quantas acabam por alcançar o seu objectivo e quantas caem nas malhas das redes de tráfico de seres humanos.

À agência Lusa, Teresa Tito de Morais adiantou que Portugal tem recebido mais pedidos de asilo de menores não acompanhados — 50 no ano passado e dois já em Janeiro. “Temos tido ultimamente um aumento de pedidos de asilo de menores não acompanhados, o que significa que estas crianças estão a fugir dos seus países e a chegar à Europa em condições muito precárias e em situações muito vulneráveis.” Os pedidos vêm sobretudo de crianças oriundas do Mali, da Guiné-Conacri, Nigéria e Sri Lanka, adiantou.

Na sua opinião, os dados da Europol são “muito chocantes”, mas não são novidade. “A notícia não é, para mim, uma novidade. Estamos a assistir a um avolumar de uma situação dramática que os refugiados, no seu conjunto, estão a viver, e particularmente as crianças, que perdem as suas famílias e ficam sozinhas. É uma situação muito grave”, considerou, defendendo que a comunidade internacional tem de estar atenta e agir no sentido de proporcionar a estas crianças que fogem condições de dignidade para as acolher.

“A solução para o problema é difícil, mas a realidade é que o tráfico está a aumentar de maneira feroz através da exploração dos refugiados. Muitas vezes as crianças são trazidas pelas redes para a Europa e ficam sujeitas a estas redes sob pena de as famílias sofrerem retaliações”, contou, acrescentando que a comunidade internacional e sobretudo a Europa têm de encontrar meios para fazer face a esta situação, nomeadamente com uma política mais solidária de acompanhamento destas situações e de acolhimento nos seus países de modo a que se possa desmantelar as redes de tráfico.

“A mensagem é a de uma mudança de política em termos de solidariedade internacional e uma atenção muito particular para esta faixa etária. São jovens indefesos que desaparecem por serem postos ao serviço das redes de tráfico, mas também porque perdem o rasto das suas famílias e não sabem onde as localizar”, frisou.

De acordo com Brian Donald, director da Europol citado pelo semanário britânico The Observer, os números divulgados domingo respeitam a crianças a quem se perdeu o rasto após o seu registo pelas autoridades europeias. Cerca de metade delas desapareceu em Itália.

Cerca de um milhão de migrantes chegaram à Europa no ano passado, naquela que é a pior crise migratória nesta região desde a Segunda Guerra Mundial: 27% são crianças, estima a Europol.