Vêm aí os russos
Tudo começa em Fevereiro com um autor-ícone, Andrei Tarkovsky. Depois, neste ciclo da Leopardo Filmes que se vira a Leste, haverá Eisenstein, Vertov, Barnet ou Klimov. E a conclusão faz-se com as estreias dos últimos filmes de Andrei Konchalovski e Aleksandr Sokurov.
A política de retrospectivas e reposições da Leopardo Filmes vira-se, nos próximos meses, para Leste, e para a grande tradição do cinema soviético. É um programa em várias fases, que concilia autores muito consagrados e há décadas inscritos nos manuais de história do cinema com outros que, para o público em geral (ou pelo menos para os que não sejam frequentadores habituais da Cinemateca), farão figura de autênticas revelações.
Tudo começa em Fevereiro com um autor-ícone do cinema soviético dos anos 60 aos anos 80, que filmou o "autor de ícones" Andrei Rubliov numa das suas obras mais lendárias, Andrei Tarkovsky. Houve um período em que ele era a máxima expressão, fora de portas, do cinema de autor produzido na URSS, com os seus filmes de sentido esguio, fortemente contemplativos e enigmáticos, por vezes (Stalker, Solaris) em tangente com os universos da ficção científica. A partir de 11 de Fevereiro o Nimas propõe um regresso à sua obra, com todas as longas metragens de ficção do autor, de A Infância de Ivan (1962) ao derradeiro O Sacrifício, feito na Suécia em 1986 (Tarkovsky auto-exilara-se em 1984), fecho de uma obra interrompida pela morte prematura do cineasta nesse mesmo ano de 1986, com 54 anos.
Não foi uma história feliz a de Tarkovski, mas há poucas histórias felizes no cinema soviético. Nem a de Eisenstein, o seu maior ícone clássico, também morto prematuramente (aos 50 anos) e caído em desgraça. É o senhor que se segue no programa da Leopardo, a partir do final de Março, com um conjunto de obras primas onde pontificam o lendário Potemkin (1925) e esse cume absoluto da arte cinematográfica que é o díptico de Ivan, o Terrível (1944-45), o filme final que provocou a fúria irremediável de Estaline.
Outros clássicos no programa incluem Aleksandr Dovjenko (A Terra) e Dziga Vertov (O Homem da Câmara de Filmar), havendo ainda a grata surpresa de vermos o maravilhoso Boris Barnet integrado neste pequeno panteão, com A Casa da Rua Trubnaia. Para o final (Maio e Junho), evoca-se a geração dos anos 60 e 70, contemporânea de Tarkovski, com filmes de Larissa Shepitko, Mikhail Romm, Sergei Bondarchuk, Marlen Khutsiev e Elem Klimov. E a conclusão faz-se com as estreias dos últimos filmes de Andrei Konchalovski (As Noites Brancas do Carteiro) e Aleksandr Sokurov (Francofonia).