Fofos e irresistíveis, aos pandas ninguém nega folhas de bambu
Mais de um quinto da população de pandas da China está em cativeiro. Estes animais têm dificuldade em adaptar-se à natureza quando nascem nos centros.
O primeiro avistamento de um panda acontece assim que se sai do avião, a caminho do local onde se apanha a bagagem. Há vários pandas de peluche expostos numa loja no aeroporto, com os olhos de plástico brilhantes com uma mancha preta à volta. O visitante que sai para a cidade irá depois descobrir mais pandas a mirarem-no dos toldos das lojas ou dos autocolantes colocados nos táxis por toda a região metropolitana, de 14 milhões de habitantes, do Sudoeste da China.
A cidade de Chengdu está em explosão devido à sua indústria ligada à tecnologia: caso esteja a ler este artigo num aparelho electrónico, é muito possível que esse aparelho tenha nascido lá. Mas a sua cozinha magnífica e, sim, os pandas vieram primeiro.
O Jardim Zoológico Nacional Smithsonian, na cidade de Washington, nos Estados Unidos, tem quatro destes animais, incluindo o seu mais novo habitante, o pequenino panda macho Bei Bei, que recentemente foi apresentado ao público. Mas, na China, os pandas-gigantes existem às dezenas e é fácil observá-los. Ou mais ou menos.
Para os ver, é necessário fazer uma viagem por estrada. A auto-estrada da província de Sichuan que vai em direcção a oeste começa com bom pavimento mas depois transforma-se noutra coisa qualquer.
No fim desta estrada difícil, ao cabo de mais de 130 quilómetros, está a Reserva Nacional de Wolong, onde os pandas-gigantes vagueiam. Mas o primeiro centro de investigação de pandas da China está quase totalmente fechado e a ser reconquistado pela natureza, salvo um pequeno número de pandas que ainda restam, depois ter sido muito danificado por um sismo em Maio de 2008. Um novo centro espraia-se um pouco mais a baixo, em Gengda, ainda na reserva natural de Wolong, e foi construído para as massas. Os passeios largos desenham meandros entre os jardins dos pandas, e os centros interpretativos estão prontos para as exposições que estão a ser preparadas. Há edifícios para a investigação e para o tratamento dos pandas.
Estes animais também já chegaram ao novo centro da cidade de Gengda. Alguns parecem estar irrequietos, como se estivessem à espera dos visitantes, e abrem a boca.
Dificuldades na natureza
O paradoxo é que, apesar do grande sucesso da China em criar uma população de pandas em cativeiro, é assim que ela se mantém: em cativeiro. As autoridades chinesas têm tentado reintroduzir pandas na natureza durante anos, mas o sucesso tem sido limitado.
O problema está na adaptação à natureza destes animais e no facto de os pandas selvagens não serem assim tão simpáticos e lutarem contra os recém-chegados, diz Wu Daifu, que supervisiona o treino dos animais no primeiro centro.
“Encontrámos muitas dificuldades”, diz. “Por exemplo, na forma como treinamos os pandas. O que podemos fazer é ir mudando o ambiente dos pandas e deixá-los adaptarem-se pouco a pouco ao ambiente selvagem.”
Depois, há pessoas. “Os nossos pandas selvagens enfrentam o problema do desenvolvimento”, diz, por sua vez, Zhang Hemin, director do Centro de Investigação para o Panda-Gigante, que criou as instalações em Wolong e em Hetaoping. É conhecido como o "Papá Panda" pelo seu papel de supervisão das crias pretas e brancas da nação chinesa. “Há várias auto-estradas e centrais hidroeléctricas em construção. Elas fragmentam o habitat do panda.”
As estimativas apontam para a existência de uma população de mais de 1800 pandas; uma contagem recente mostra que existem 422 em cativeiro.
Os animais também têm um outro papel. Tornou-se claro que são uma forma de diplomacia soft (e adorável) na mão dos líderes chineses, que doam pandas aos jardins zoológicos de todo o mundo.
Há um terceiro lar de pandas mais abaixo, numa estrada com um pavimento macio na cidade de Dujiangyan, onde um panda conhecido e acarinhado, o Tai Shan, pode ser encontrado. Ele é o irmão mais velho de Bao Bao e de Bei Bei, dois pandas que estão em Washington. Tai Shan tornou-se uma superestrela em 2005 por ser o primeiro panda a nascer no jardim zoológico de Washington, e ter conseguido sobreviver e crescer. Depois, a China, proprietária de todos os pandas, quis tomar posse do Tai Shan em 2010. Agora ele tem o equivalente a 30 anos em termos humanos. Em contagem de anos solares, são apenas dez. O último aniversário, a 9 de Julho de 2015, atraiu fãs para a festa. E foi servido um bolo.
Apesar de Tai Shan ter uma vida de celebridade, ainda fica nervoso ao pé de estranhos, diz o seu tratador. Quando um repórter do jornal Washington Post se aproximou pela primeira vez, ele voltou-se, empinou a cauda e fez as suas necessidades.
Noutra parte da base do centro de Dujiangyan, duas crias estão a ser alimentadas pelo tratador Gao Qiang. Estão mais esfomeadas do que nervosas, o que revela a inocência da juventude.
É difícil tirar os olhos dos pandas quando estão a comer. Ou a fazer nada. A sua presença rouba os olhares e as exclamações aos humanos. Se dependessem apenas da natureza, os animais estariam extintos: criar pandas bebés é difícil, e o bambu é um alimento que tem pouca energia. A província de Sichuan é um lugar perigoso para um panda viver na natureza. Mas todos estes argumentos parecem irrelevantes para um animal que mais se parece com um urso de peluche.
De volta ao aeroporto de Chengdu (tal como noutras partes da China, um novo aeródromo está a ser construído), há um último encontro com a figura do panda. No terminal, um panda, agora em cartoon, acena aos viajantes a desejar Bon Voyage.
Exclusivo The Washington Post/PÚBLICO