A derrota do segurismo
Enquanto líder partidário, António Costa sai desta eleição sem se comprometer pessoalmente com nenhum candidato.
O PS sai das presidenciais como um partido perdedor face à vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, candidato apoiado pelo partido de que foi presidente, o PSD, mas também pelo CDS. Mas se o PS sai derrotado como partido, internamente mantêm-se as divisões, averbando os seguristas uma pesadíssima derrota com a baixa percentagem de 4,24% atingidos pela candidata Maria de Belém Roseira.
Na noite eleitoral, a direcção socialista limitou-se a uma breve declaração da secretária-geral adjunta, Ana Catarina Mendonça Mendes, em que saudou o Presidente eleito. E António Costa falou apenas como primeiro-ministro.
Enquanto líder partidário, António Costa sai desta eleição sem se comprometer pessoalmente com nenhum candidato, embora tenha sido claro o seu distanciamento em relação à possibilidade de o PS apoiar Maria de Belém. Mas as divisões e as feridas abertas pela sua eleição como secretário-geral impediram-no também de poder avançar para um apoio a Sampaio da Nóvoa, o candidato que claramente preferia e que convidou mesmo a discursar no congresso socialista da sua consagração.
Costa não pode apoiar Nóvoa em nome de não partir o PS, sobretudo depois da derrota das legislativas. Mas o seu estado-maior envolveu-se de corpo inteiro na candidatura do ex-reitor. O presidente do PS, Carlos César, apoiou Nóvoa ainda antes das legislativas, Pedro Delgado Alves foi director de campanha, Ana Catarina Mendonça Mendes participou na campanha, bem como vários socialistas que se sentam na bancada parlamentar socialista e alguns ministros do Governo liderado por Costa.
Daí que seja impossível a Costa deixar de ser olhado também como um derrotado. Uma derrota que é temperada pelo facto de o Presidente eleito ser claramente o candidato do espectro partidário oposto ao dos socialistas. A única vitória que Costa averba, mesmo assim, é ver a dimensão da derrota de Maria de Belém, uma derrota que causará danos e consequências reais na oposição interna ao agora líder socialista.
Até porque o nível de derrota de Maria de Belém permite a Costa olhar com tranquilidade para a oposição interna que lhe tem sido feita pelos apoiantes do anterior secretário-geral, António José Seguro. Isto porque a ex-presidente do PS durante a liderança de Seguro surgiu como candidata a Presidente numa lógica partidária de oposição a Costa, no que foi um prolongamento do confronto socialista que se vive desde as primárias do Verão de 2014.
Nas legislativas, a oposição segurista a Costa ganhou algum fôlego, perante a derrota do PS nas urnas e a vitória da coligação entre o PSD e o CDS. Organizando-se em torno de Francisco Assis, a oposição segurista manteve-se activa e esteve na base da candidatura de Maria de Belém. E se Seguro nunca apareceu na campanha, nem apelou ao voto, mantendo o absoluto silêncio a que se remeteu desde as primárias, Eurico Brilhante Dias foi um dos primeiros entusiastas no apoio a Maria de Belém e Francisco Assis envolveu-se, subindo aos palcos de campanha até ao último dia no Porto.
Mesmo assim, Maria de Belém procurou descolar da lógica de candidatura de facção e na entrevista ao PÚBLICO chegou mesmo a afirmar: “Não conheço o segurismo.” Resta esperar para perceber se o segurismo irá sobreviver e se sim, como se reorganizará a oposição a António Costa dentro do PS.