Parque Nacional da Peneda-Gerês suspende acesso às áreas mais sensíveis
Proibida entrada nas zonas de protecção total por tempo indeterminado, depois de seis pessoas terem sido resgatadas no início do mês na zona das antigas minas dos Carris. Caminhadas sem autorização motivaram cinco contra-ordenações no último ano.
A direcção do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) deixou de emitir autorizações para visitas às áreas de protecção total, as zonas mais sensíveis daquela área protegida, nas últimas semanas, ao contrário do que vinha sendo prática corrente. A decisão foi tomada por tempo indeterminado e é justificada pelos incidentes recentes como o que obrigou ao resgate de um grupo de caminheiros que esteve isolado na zona de acesso às antigas minas dos Carris, no início destes mês.
Os serviços do PNPG “decidiram suspender temporariamente as autorizações de visita às áreas de protecção total”, confirma ao PÚBLICO fonte do Instituto para a Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), o organismo público que coordena a gestão das áreas protegidas nacionais. Esta decisão não tem um prazo de validade, mas deverá manter-se, pelo menos, por mais dois meses. As “condições meteorológicas” são um dos motivos apontados pelas autoridades para esta solução, o que levará a que não sejam aprovados novos pedidos enquanto decorrem os meses de Inverno.
No entanto, o mesmo ICNF não esconde que a suspensão de autorizações de acesso às áreas de protecção total foi determinada “à luz dos recentes incidentes” no parque nacional. No dia 9 de Janeiro, duas corporações de bombeiros foram mobilizadas para a Penda-Gerês para resgatar dois grupos, num total de seis pessoas, que tinham ficado retidos numa zona de acesso às antigas minas dos Carris, num dia de condições climáticas particularmente adversas. Esses caminhantes acabaram por ser resgatados ao final da tarde, num abrigo de montanha, depois de cerca de quatros horas de operações.
Nos últimos anos, o PNPG vinha autorizando a realização de visitas em trilhos situados em área de protecção total quando estes eram solicitados, analisando “a capacidade de carga do local” para o qual era feito o pedido. O Plano de Ordenamento daquela área protegida, publicado em 2011, permite a permanência zonas mais sensíveis do parque por um conjunto de motivos, incluindo “para fins de visitação pedestre nos trilhos existentes”, desde que devidamente autorizado.
As ruínas das antigas minas estão numa zona de protecção parcial de tipo I , pelo que grupos com menos de dez pessoas podem permanecer aí sem qualquer tipo de autorização. No entanto, alguns dos percursos usados para ali chegar atravessam áreas de protecção total, o nível mais sensível de preservação, o que exige uma autorização para a sua utilização. Ainda que o percurso não esteja sinalizado nem homologado, o PNPG considera-o “um trilho existente no terreno”, o que justifica este enquadramento.
Face aos últimos acontecimentos, a direcção do parque nacional decidiu mudar esta posição. Ainda assim, o ICNF entende que não havia motivo para publicitar a decisão, por considerar que a mesma se baseia em normas já previstas no Plano de Ordenamento do PNPG, um documento que é público. No entanto, a decisão tem sido comunicada formalmente às pessoas e grupos que têm contactado o PNPG para pedir autorização de acesso a áreas de protecção total.
O ICNF afasta também a ideia de que não esteja a ser feita fiscalização à permanência indevida de pessoas em áreas de protecção total, justificando que grupos pouco preparados para as condições adversas da montanha de atrevam em incursões como a que motivou o resgate do início deste mês. Os dados oficiais apontam que, no último ano, foram instruídos cinco autos de notícias por contra-ordenações por permanente não autorizada em zonas de protecção total, no âmbito de actividades de turismo de natureza. Destes, três dizem respeito aos acessos às minas dos Carris.
A zona das antigas minas tem sido cada vez mais procurada nos últimos anos por praticantes de montanhismo e caminhada, bem como por curiosos. Além da beleza natural daquela área, situadas a uma altitude de cerca de 1500 metros – facilitando o contacto com a neve durante o Inverno –, as ruínas das estruturas que apoiavam a exploração de volfrâmio naquela zona dão ao lugar características únicas no contexto do PNPG.
Aquele conjunto mineiro passou por três fases de exploração. A primeira começou em 1941 e durou até ao final da II Guerra Mundial, sendo liderado por uma empresa portuguesa que servia apenas de fachada aos seus concessionários reais, de origem alemã. Seguiu-se um período que corresponde à Guerra das Coreias (1950-1953), tendo tido uma última fase de exploração, menos intensa, nos anos 1970.