Um regresso ao sistema partidário antigo

Nestas eleições descobrimos que afinal a televisão não substitui os partidos políticos na mobilização dos eleitores. Por razões diferentes, nem o PS nem o PSD se envolveram na campanha. O primeiro oficialmente, o segundo no terreno. O resultado está à vista – uma abstenção nunca vista numa primeira eleição presidencial. Estas eleições mostram que a excessiva dependência em relação à televisão só serve para alienar ulteriormente o eleitorado. A haver uma reforma da democracia, ela tem de passar necessariamente pelos partidos.

A estratégia de despolitização de Marcelo funcionou porque a esquerda deixou. Marcelo tinha de ganhar o centro para se poder eleger, e por isso deixou de lado a sua base partidária e nunca disse nada levemente de direita. A esquerda deixou porque não se soube apresentar unida. Fragmentou-se em candidatos e candidatas. 

À direita, esta vitória de Marcelo serve aqueles que no PSD acham que o partido se deve chegar ao centro. À esquerda, esperam-se agora ver facas afiadas, sobretudo dentro do PS. Não quer obviamente dizer, e Marcelo reforçou esse ponto muitas vezes ao longo da campanha, que o novo Presidente se oporá ao Governo. Não o fará provavelmente, seja por convicção, seja por prudência, ou táctica política. Mas não consolida a coesão interna do Governo.

Assim, embora António Costa tenha deitado abaixo o que restava do muro de Berlim a nível do legislativo, esta eleição foi uma oportunidade perdida que não serviu para consolidar essa mudança para “um tempo novo”. Pelo contrário. A eleição de Marcelo à primeira volta representa um regresso ao sistema partidário antigo: uma direita aparentemente moderada e centrista que vence perante uma esquerda dividida.

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