Comboios de passageiros regressam aos carris entre Elvas e o Entroncamento

“A CP actuará, tal como na anterior situação politica, de acordo com a orientação governamental”, diz a empresa

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No ano passado, o número de passagens de nível baixou para 1049 PÚBLICO/arquivo

A Assembleia da República aprovou, por unanimidade, um projecto de resolução que recomenda ao governo a reposição do serviço público de passageiros na linha do Leste (Entroncamento – Elvas/Badajoz) em todo o seu percurso.

A proposta partiu dos Verdes e contou com o apoio do PSD e do CDS, apesar de ter sido o governo anterior a decidir o encerramento desta e de outras linhas de caminho-de-ferro.

A resolução agora aprovada tem em conta que “numa altura de crise económica, social e ambiental profunda, a aposta nos transportes públicos, nomeadamente o transporte ferroviário, deve ser assumida como um factor estruturante do desenvolvimento e de ordenamento do território”.

O documento diz ainda que o encerramento da linha do Leste deixou o distrito de Portalegre como o único no país “sem uma única estação onde um passageiro pudesse apanhar um comboio”. E refere que, depois de encerrada a linha em 1 de Janeiro de 2012 “pelo governo PSD/CDS a pretexto da procura reduzida de passageiros”, em Setembro de 2015 a CP decidiu repor o serviço às sextas-feiras e domingos, mas só entre Entroncamento e Portalegre.

Classificando essa medida de eleitoralista (as eleições legislativas realizar-se-iam poucos dias depois), os Verdes querem agora que esse serviço passe a diário e seja prolongado até Elvas, reforçado com mais comboios.

No debate parlamentar que precedeu a aprovação, a deputada Heloísa Apolónia disse que “o comboio foi roubado às populações e os Verdes propõem que seja devolvido às populações”. E acrescentou que isso nem requer investimentos prévios nem avultados pois a linha do Leste está operacional porque nela circulam comboios de mercadorias.

Manuela Cunha, de Os Verdes, disse ao PÚBLICO que “sendo a CP uma empresa pública, responde ao seu accionista que é o Estado” e que “o governo que governa é que dá as suas orientações às empresas públicas”. Por isso, “se foi o governo anterior que mandou encerrar, será o governo actual que mandará reabrir”.

A CP não diz que não. Questionada pelo PÚBLICO diz que “a CP actuará, tal como na anterior situação política, de acordo com a orientação governamental”.

Em Dezembro de 2011 a empresa tinha tornado público que o encerramento da linha do Leste se justificava por só haver uma média de 17 passageiros por comboio, o que representava uma receita de 16 mil euros por ano contra 1,78 milhões de euros de custos operacionais.

A reposição parcial do serviço, desde Setembro, não tem tido grande sucesso. Segundo a CP, a média de passageiros por comboio foi de 35 em Outubro, 28 em Novembro e de 17 em Dezembro. O objectivo destas ligações aos fins-de-semana seria responder às necessidades de mobilidade dos estudantes do Instituto Politécnico de Portalegre e dos formandos do centro de formação da GNR daquela cidade.

O serviço resulta de um protocolo celebrado entre a CP, as autarquias da região e a Infraestruturas de Portugal (ex-Refer), sendo que esta última não cobra taxa de uso (portagem ferroviária) pela passagem dos comboios.

O protocolo estabelece que em Maio será feita uma avaliação para decidir se o mesmo se mantém ou não, mas a resolução dos Verdes obrigará à sua continuidade e até alargamento do serviço a Elvas.

Em causa estão 131 quilómetros entre Abrantes e Elvas, onde se destacam povoações como Ponte de Sor, Crato, Portalegre e Santa Eulália, que passarão a ser novamente servidas por comboio.

Não sendo competitivo na ligação a Lisboa, o modo ferroviário é, no entanto, o mais rápido e o mais económico entre o Alto Alentejo e o Norte do país. Desde, claro, que a CP assegure no Entroncamento boas ligações aos comboios de longo curso.

Um ponto fraco é, porém, a proverbial falta de material circulante da CP. A empresa envia para o Leste automotoras a diesel velhas e desconfortáveis porque não tem outras, o que torna o serviço pouco atractivo. Do ponto de vista ambiental estão longe de ser muito “limpas” pois gastam mais de cem litros de gasóleo aos cem quilómetros.

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