Morreu Aureliano da Fonseca, o médico que compôs o hino dos estudantes do Porto
Antigo estudante e professor da Universidade do Porto transformou-se num símbolo ao compor "Amores de Estudante". O funeral é às 14h30 desta segunda-feira.
Viveu para sempre um jovem estudante, talvez eternizando "a ilusão de um instante", como dizia a música que compôs nos anos 1930 e se transformou num hino da academia do Porto. Aureliano da Fonseca, o notável médico dermatologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), morreu neste sábado. Tinha 100 anos e sentia-se jovem, como confessou ao projecto Porto Olhos nos Olhos, em Julho passado: " Um indivíduo pode ter 100, como eu tenho, mas se tem curiosidade não envelheceu."
Era talvez esse o segredo da juventude guardada num século de vida. Quando abandonou definitivamente o consultório de dermatologia, no Porto, tinha já 100 anos cumpridos. Fê-lo pela “esperança de ser útil até ao fim dos dias” e por “paixão pela Medicina”.
Natural do Porto, onde nasceu a 25 de Fevereiro de 1915, Aureliano da Fonseca elegeu a Medicina por influência de um médico amigo, que lhe emprestava livros e lhe contava histórias. Em 1940 licenciou-se pela FMUP e 20 anos depois haveria de concluir o doutoramento na mesma instituição, onde foi também docente por quase três décadas.
Queria ser diferente, como um professor de História que havia tido no liceu Alexandre Herculano, no Porto, e passava as aulas a fintar a matéria e a agitar ideias. Para Aureliano, dar aulas era “só seguir a lei da vida”, explicou: “O professor universitário não deve ensinar coisa nenhuma: deve despertar no aluno interesse para o estudo.”
Até há poucos anos, fazia-se acompanhar sempre por uma máquina fotográfica e, enquanto médico dermatologista, recolheu largas dezenas de imagens de doenças, um espólio doado à FMUP. “Como entendia que o professor não devia explicar mas antes despertar para alguma coisa, utilizava muito a fotografia para fazer isso com os meus alunos. O que me interessou nunca foi apenas tratar doenças. Quis sempre saber mais e isso significa que queria saber qual a origem delas”, explicou.
Ainda estudante, tornou-se num símbolo do movimento académico do Porto ao compor o tema “Amores de Estudante”, transformado num hino e cantado até hoje por tunas e grupos de fado académico de todo o país.
Essa ligação à música fê-lo envolver-se, em 1937, na reactivação do Orfeão Universitário do Porto, instituição que estava inactiva desde 1912.
Nos últimos anos, o médico dermatologista dedicava “oito a 12 horas por dia” à escrita, tendo publicado dezenas de livros, “uns mais científicos, outros menos”.
O funeral realiza-se nesta segunda-feira, às 14h30, na Igreja do Foco, Boavista, no Porto.