Banca e dívida pública sob o efeito da decisão no Novo Banco
Acções da banca estão em forte queda, com destaque para o BCP. Investidores internacionais dizem que há maior desconfiança em relação a Portugal e aos bancos do Sul da Europa após perdas dos credores senior do Novo Banco.
Continuam a fazer-se sentir nos mercados as ondas de choque da decisão de penalizar alguns dos detentores de obrigações sénior do Novo Banco, com os efeitos a atingirem tanto o sector bancário de todo o Sul da Europa como também a dívida pública portuguesa.
Foi nos últimos dias de 2015 que o Banco de Portugal anunciou que diversas séries de títulos de dívida sénior do Novo Banco iriam afinal juntar-se ao BES, tornando altamente improvável que os investidores detentores dessas obrigações, incluindo fundos internacionais de grande dimensão, venham a receber o dinheiro investido.
Logo a partir desse momento notou-se uma mudança na forma como os mercados olham para Portugal. Os analistas deram conta do efeito sofrido pelos bancos nas bolsas e, principalmente, na sua incapacidade para realizarem novas emissões de dívida junto de investidores internacionais.
Esta segunda-feira, tornaram-se ainda mais claros os sinais de que o impacto da decisão anunciada pelo banco de Portugal pode alargar-se ainda mais.
O Financial Times noticiou na sua edição diária que os títulos de dívida emitidos pelos bancos de toda a Europa do Sul têm vindo a ser penalizados desde que o Banco de Portugal impôs perdas aos obrigacionistas sénior do Novo Banco.
O jornal, uma das principais referências entre os participantes dos mercados financeiros internacionais, diz, citando diversos analistas, que “a acção no Novo Banco contaminou o mercado para os bancos mais fracos do Sul da Europa”.
Os destaques vão, para além dos outros bancos portugueses e dos credores do Novo Banco que não viram as suas obrigações transferidas, para os bancos italianos, que estão a braços com níveis de endividamento malparado muito elevados.
A lógica, entre os investidores, parece ser a de que, se aconteceu no Novo Banco, esta pode passar a ser a política seguida pelas autoridades europeias sempre que houver necessidade de enfrentar uma insuficiência de capital grave num banco. Esta ideia é aliás reforçada pelo facto de, no início deste ano, terem entrado em vigor as novas regras europeias para a resolução bancária, que colocam os credores e os accionistas na linha da frente para as potenciais perdas.
Esta manhã - no meio de uma conjuntura europeia muito negativa para o sector por causa das notícias que dão conta de uma nova fiscalização geral do BCE a crédito malparado - os bancos portugueses registaram novas quedas no valor das suas acções. Esta segunda, o BCP caiu 7,7% e o BPI 5,5%. O PSI20 apresentou uma desvalorização de 3,71%.
Em Portugal, contudo, os efeitos podem não se ficar pela banca. Esta manhã, numa entrevista à Bloomberg TV, Scott Thiel, o vice-presidente da gestora de fundos internacional BlackRock (que terá sido uma das afectadas pela decisão no Novo Banco), afirmou que aquilo que aconteceu no sector bancário em Portugal afectou também a confiança dos investidores na dívida pública do país. “Com o que aconteceu em alguns bancos lá, os investidores ficaram desconfiados”, disse, assinalando que se tem vindo a registar uma subida das taxas de juro da dívida portuguesa.
Ao início da tarde desta segunda-feira, a taxa de juro implícita da dívida pública portuguesa a 10 anos situava-se, de acordo com a Reuters, em 2,777%, um valor que é superior em 0,043 pontos percentuais ao que se tinha registado no final da semana passada. No final de 2015, este indicador estava nos 2,54%.