Salvador Allende e Augusto Pinochet, personagens de BD

Uma novela gráfica reconstitui o golpe militar chileno de 11 de Setembro de 1973.

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O Presidente deposto pelo golpe militar de 11 de Setembro de 1973, de que não saiu vivo, e o general golpista encontram-se nas páginas de Maudit Allende! DR

Foi um dos episódios mais sinistros da História do século XX, e a banda desenhada não o torna habitável: manhã de 11 de Setembro de 1973 em Santiago do Chile, e se há fumo em La Moneda, o palácio presidencial, é porque o primeiro regime marxista latino-americano eleito por sufrágio universal está a arder. Ardeu mesmo, e com ele um médico que queria ficar na História, Salvador Allende, e um indeterminado número de mortos e desaparecidos cujas cinzas foram nada subtilmente varridas para debaixo do tapete da Guerra Fria por um general de bigode, Augusto Pinochet, que primeiro se escondeu atrás de uns óculos escuros e depois atrás da demência (sempre com o alto-patrocínio da CIA).

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Maudit Allende! é a reconstituição, pelo desenhador argentino Jorge Gonzalez e pelo argumentista francês Olivier, do golpe militar de 1973 DR

Passaram-se décadas – eventualmente o tempo suficiente para que ambos, Allende e Pinochet, possam ressurgir agora como personagens de BD numa novela gráfica recentemente editada em França pela Futuropolis e que no próximo ano chegará também ao Chile (polémica à vista, portanto). Maudit Allende! é a reconstituição, pelo desenhador argentino Jorge Gonzalez e pelo argumentista francês Olivier Bras (ex-jornalista do Libération, do Courrier International e da Radio France Internationale), do golpe militar de 1973 – uma reconstituição que também é dura com a facção que a História fixou como o lado bom da força, o do Presidente que não sobreviveu à entrada em cena da Junta Militar, aqui retratado como um político orgulhoso e autista. Claro, Pinochet também não escapa minimamente ileso ao choque: aparece nestas páginas como um aprendiz de ditador indeciso e temente à mulher, como sublinha a cena do aniversário da filha mais nova, dois dias antes do assalto, quando os oficiais golpistas vêm perguntar-lhe se está com ou contra eles. Dura descoberta para o protagonista de Maudit Allende!, Leo, um filho de chilenos que se refugiam na África do Sul para escapar ao governo popular de Allende e que o educam no culto do general – até ao dia em que, já adulto, chega ao Chile para o ver com outros olhos, com outros óculos. É uma história relativamente comum, acredita Bras: “Alguns pinochetistas foram pouco a pouco percebendo que não havia apenas uma versão da História.” González, que acompanhou de perto outra sinistra história, a da Argentina, garantiu à agência EFE que esta “não é uma obra agressiva” interessada em pôr-se “de um lado ou do outro”: é só mais um livro a querer “contar de que é feita a América Latina”.

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