Uma guerra silenciosa com Angola
Os portugueses do BPI e os angolanos da Unitel estão condenados a chegar a um acordo.
Este ano o Banco Central Europeu (BCE) exigiu que o BPI reduzisse a exposição a Angola. Isto aconteceu porque o BCE não reconhece Angola entre os países com regulamentação e supervisão idênticas às da União Europeia e, como tal, os activos que o banco português detém em Angola terão de ser alienados ou redimensionados. Para se perceber a importância que Angola tem nas contas do BPI basta pensar que até Setembro 105 dos 151 milhões de euros dos lucros do banco vinham de Angola.
A equipa de Fernando Ulrich desenhou uma solução engenhosa para cumprir a exigência do BCE e propôs uma cisão, criando uma empresa à parte do banco e que iria agregar os principais activos que o BPI tem em África, entregando as acções dessa nova sociedade aos actuais accionistas do banco. Com isso Ulrich conseguiria que o BPI reduzisse a sua exposição ao mercado africano, sem que os seus accionistas abdicassem do potencial daquele mercado.
No entanto, cedo se percebeu que não iria contar com o apoio de Isabel dos Santos. Mesmo assim, esta segunda-feira o BPI fez o registo da operação na conservatória, numa tentativa de apressar o calendário e desbravar caminho, já que uma operação desta monta exige um sem-número de autorizações, a começar pelos bancos centrais europeu, nacional e angolano. Mas sem Isabel dos Santos não se faz nada no BPI, principalmente quando o palco é Angola; que o diga o CaixaBank, que viu a sua tentativa de OPA esbarrar na falta de vontade dos angolanos em vender. Mais do que vender, já se percebeu que os angolanos querem é comprar; e esta exigência que o BCE impôs ao BPI poderá ser uma oportunidade para Isabel dos Santos ficar com o controlo do BFA. Resta saber se os restantes accionistas do BPI estão dispostos a abdicar de Angola, e a que preço. Mas nesta guerra alguém vai ter de ceder, caso contrário perde o BPI, ou seja, perdem todos.