Hora de balanço com 2015 prestes a terminar
Com o ano prestes a terminar, chega a hora de fazer um balanço sobre a situação da economia global e traçar perspectivas para 2016. Olhando, em retrospectiva, para os últimos doze meses, concluímos que os principais marcos, de um ponto de vista económico, foram (i) a recuperação da economia e o início do processo de normalização dos juros de referência nos Estados Unidos, (ii) a expansão do carácter expansionista da política monetária na Zona Euro, (iii) o terceiro programa de resgate à Grécia, (iv) o prolongamento da trajectória de queda dos preços do petróleo e (v) o enfraquecimento das economias emergentes. Em Portugal, assistiu-se a uma (vi) recuperação da actividade, suportando o aumento da confiança na economia e a subida dos ratings, e foi (vii) investido um novo Governo, resultante da união das esquerdas. No plano político, assistiu-se a (viii) um aumento do apoio aos partidos menos moderados (e.g. Syriza na Grécia, Frente Popular em França, etc.), a (ix) um agravamento das tensões geopolíticas (e.g. Síria, atentado de Paris) e a (x) uma tentativa de alteração dos regimes na América Latina, através do voto nos Partidos da oposição (e.g. Venezuela, Argentina).
Nos Estados Unidos, a recuperação do mercado do trabalho e a evolução robusta do consumo e do sector dos serviços permitiram que o Fed iniciasse o processo de normalização dos juros de referência em Dezembro. Embora as pressões inflacionistas tenham permanecido fracas, penalizadas pela queda dos preços do petróleo e pela apreciação do dólar, o Fed mostrou-se confiante quanto à resiliência da economia e quanto à sua capacidade para acomodar uma subida de 25 pontos base da taxa fed funds. A julgar pela evolução dos indicadores de actividade mais recentes, a economia norte-americana terá crescido 2.4% no conjunto do ano, suportada pela expansão da procura interna. A taxa de desemprego desceu, de 5.7% para 5% da população activa, e a inflação homóloga acelerou ligeiramente, de -0.1% para 0.5%. Para 2016, prevê-se uma aceleração apenas marginal do crescimento, para 2.5%. A recuperação deverá prosseguir, mas com o crescimento a ser restringido pela subida dos juros, por um dólar forte (com efeitos na inflação e nas exportações) e por uma menor actividade nos sectores extractivos (pressionados pela queda dos preços das commodities, que determinam a correcção de um excesso de capacidade produtiva). A recuperação dos salários e dos preços da habitação, a inflação baixa e a natureza muito gradual da subida de juros deverão suportar o consumo privado, que se deverá manter como um dos principais drivers de crescimento. A nível político, as eleições Presidenciais de 8 de Novembro revelam-se como um destaque incontornável.
Na Zona Euro, a economia continuou a recuperar, ainda que de modo bastante modesto, suportada pela política expansionista do BCE, pela depreciação do euro, pela melhoria das condições de financiamento, pela queda dos preços do petróleo, pela persistência de níveis baixos de inflação e pelo aumento da confiança. Assim, em 2015, prevê-se que os Dezanove tenham crescido 1.5%, impulsionados pela expansão do consumo privado. Para o próximo ano, este padrão deverá manter-se, não obstante a esperada atenuação dos suportes da queda do preço do petróleo e da depreciação do euro, antecipando-se uma aceleração do PIB para 1.7%. A inflação tenderá a recuperar e o BCE deverá manter um easing bias, mostrando-se disponível para voltar a intervir caso seja necessário. Outro tema essencial será o risco de fragmentação política, como sintoma de, entre outros temas, um cansaço depois de um período alargado de restritividade política orçamental ou de discórdia em torno da questão dos refugiados. Esta fragmentação tenderia a reflectir-se num aumento do apoio a partidos mais radicais, aumento um clima de instabilidade.
Para toda a União Europeia (UE), um dos principais temas de 2016 será, seguramente, a questão do referendo sobre a permanência do Reino Unido na UE (vulgarmente designado de Brexit). Embora esteja previsto, apenas, para 2017, é possível que o Governo britânico antecipe a consulta popular, de modo a reduzir a incerteza que envolve a sua convocação. Deste modo, nos próximos meses, deveremos assistir a uma intensificação do debate sobre o Brexit, bem como à ocorrência de negociações entre o Reino Unido e Bruxelas, com vista à obtenção de um acordo que satisfaça as exigências britânicas (em questões como a soberania e a imigração) e, assim, leve o Governo de David Cameron a apelar ao voto pela permanência do Reino Unido na UE.
Nos mercados emergentes, prevê-se que a China continue a exibir um abrandamento moderado da actividade, em reacção à desejada alteração do padrão de crescimento da economia (com um maior suporte do consumo privado e uma menor dependência do investimento e das exportações). No Brasil, o clima de instabilidade política deverá prolongar-se, condicionando a recuperação da actividade (que entrou em terreno recessivo no 2º trimestre de 2015). Apesar da recuperação das economias desenvolvidas, o abrandamento dos mercados emergentes continuará a penalizar as perspectivas para a procura de matérias-primas no próximo ano, pressionando em baixa os preços das commodities. As economias produtoras de matérias-primas, como Angola e Brasil, tenderão a ser as mais lesadas, principalmente na primeira metade do ano, condicionando o outlook para a economia global.
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